Soneto do Falso Inabalado

A vida, nau sem rumo e sem destino,

Sempre há de confrontar, como oponente,

o Tempo, geralmente um vespertino;

a morte, a cada dia, frente a frente.

A vida, incomodada de repente,

contendo a toda gente toca a sino.

"És meiga, então, serás benevolente;

és mau, amargarás desde menino".

O passo é lento e a chuva silencia...

E até que este soneto se decida,

começa a noite e acaba mais um dia.

Destrói-se um falso rosto inabalado:

Eu fui um que sofreu na mão da vida.

Amei, somente. Amei sem ser amado.

Paulista, 28 de setembro de 2003