Tarde de domingo

No seio dado ao filho, adormecido,
O leite tem sabor também de sal,
Exato ao pranto neste olhar sentido,
Molhando o magro colo maternal.

A vida é fardo sempre desigual,
Bem leve a poucos e, aos demais, sofrido!
A grande massa ignota, exposta ao mal,
Querendo ver na dor algum sentido.

Domingo à tarde, a praça está vazia,
Cidade inteira dorme neste dia.
A Roda da Fortuna interrompida.

Porém, voraz, a fome do pedinte
Não cede e ataca com maior requinte,
Clamando, em vão, um prato de comida.

Belíssima e honrosa interação do Grande Poeta e Amigo Fonseca da Rocha:

De domingo a domingo
Clamando, em vão, um prato de comida,
assiste o povo passando apressado.
A indiferença caminhando ao lado.
Desprezo e fome, parceiros na vida.
 
Não são carros ou ternos alinhados,
falsas certezas no supérfluo erguidas,
mas a desigualdade, ímpia ferida,
a consumi-lo qual faz o pecado.
 
Nem é por si toda aquela revolta,
intermitente, mas que sempre volta.
Mas pelo que jaz, anjo decaído!
 
O sono eterno, embusteira esperança.
Presente inútil, da mãe à criança,
no seio, dado ao filho adormecido.



 
Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 31/05/2021
Reeditado em 17/07/2021
Código do texto: T7268546
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