Dois Sonetos Alheatórios

Se o tempo atroz em minha carne maldita

não extinguir minha adamantina chama,

hei de arder como uma vela infinita

e incendiar a luz que o amor conclama.

Jamais renegarei este calor

que aquece até o cadáver mais gelado,

em mim cuido que não seja apagado

este pavio que nutre o meu furor.

Só quero que, no fim da longa estrada,

liberte-se meu fogo interior

e eu possa ser chama imortalizada,

e assim viver com êxtase e clamor,

ardendo em mim de forma apaixonada,

queimando os fracos sem fogo e amor.

Andando pelas ruas vejo seres

errantes vagueando sem caminho,

como uma ave que se evadiu do ninho

e erra sem parentes e prazeres.

O estranhamento mora em seus olhares,

parece que em si mesmos acalantam

as vozes tristes das coisas que cantam

a morte vã de todos os lugares.

Erram de um para outro lado,

as avenidas correm no seu sangue,

são como destemida e cruel gangue,

corsários do asfalto, abutres em estado

de errância passageira e peregrina,

sem descanso, sem lei e estalagem,

sabendo que a viagem não termina,

porque é neles que começa a Viagem.

(Vagner Rossi)

Vagner Rossi
Enviado por Vagner Rossi em 05/06/2021
Código do texto: T7272071
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