OUTRO SOBRE O TEMPO

Os versos, já cansados do soneto,
fazem contas em ábacos antigos,
tentam lembrar os nomes dos amigos,
medem os tantos erros que cometo.

Noites, que antes amava, hoje prometo
esquecer, em vingança - seus perigos
já me fizeram tanto mal, que sigo
meu caminho só, em busca doutro teto.

Hoje, me escondo em críticas fascistas
aos meus próprios desejos, mutilando
sentimentos, lacrando minhas vistas.

O tédio na garganta, malefício
que asfixia, me toma a voz, calando,
e leva o tempo, inútil desde o início ...

(Um soneto de 1986, 35 anos direto do túnel do tempo.
Faz parte do livro "Oração", nova compilação de
sonetos que estou organizando)