OS CRISTAIS

A fúria do amargor me abraça, aperta,

inflige ao coração atroz mortalha

e aguça o desespero que se espalha,

movido pela chaga sempre aberta.

Entregue ao apetite da navalha,

mergulho numa escuridão deserta,

praguejo os golpes, vem um novo e acerta

os olhos que este desamor orvalha.

Se a rouquidão envolve meu gemido,

desliza sobre o rosto carcomido

todo o esplendor dos raios matinais.

Enquanto aprisionado nesta espera,

o breu da solidão me dilacera

e é dia dentro, apenas, dos cristais.