COISA DE USO
A mulher negra apanha todo dia,
Na cozinha das casas de avenida
Ou de subúrbio, os restos de uma vida
Que não lhe dá sossego ou alegria.
A mulher branca à negra se avalia
Superior, embora perseguida,
E apanhe à sala os restos da perdida
Honra a fingir não ser mercadoria.
E os homens pobres, ricos, negros, brancos
Atingem as mulheres pelos flancos
Do coração ou pagam o prazer.
Os senhores de hoje e os das senzalas
Veem quem faz cama, coze e limpa as salas
Coisa de uso e não uma mulher.