APARÊNCIA

Não vi pano de prato mais bonito

Do que aquele feito em ponto cruz,

Tão logo o tive à vista me dispus

Dá o valor que à etiqueta estava escrito.

Tanta beleza tinha que supus

Estar diante da obra do espírito

De um mestre que pusera em agito

Um flagrante do céu com fios de luz.

Estava deslumbrado, mas em feira,

Como se diz, não caia na besteira

De não avaliar o bem comprado.

Ao avesso, a arte mítica sumia,

Por nós, fios entrançados, só se via

Um reles esfregão feito apressado.