DISCO FURADO
A mente aconselhou, "fique em casa",
"Não, não", disse o corpo, "ganhe a rua",
Assim, se viu o corpo criar asa
E a mente, a se emburrar, ficar na sua.
O corpo a noite inteira mandou brasa,
Deu a volta no globo, foi à lua,
Cantando o refrão: “não se atrasa,
Quem quer pegar o trem, a vez é tua...”
Mas a mente, que velha faladeira,
Vira e mexe, no meio da zoeira,
Lembrava “isso é coisa que não presta”.
O corpo não ouviu dela um trisco,
Até de manhã ver furado o disco
De quem ficou e em casa fez a festa.