FARRAPO

Eu via réplica da fome amanhecendo,

No osso exposto da metrópole encardida.

Roendo o resto da pessoa falecida,

enquanto persistia o que eu ia esquecendo.

Cego desvia a alma atrás do dia,

com as vergonhas queimando o rosto do sertão.

Flor do asfalto de farrapo e carvão,

mais estreita que a rapina que lhe comia.

Só lhes falta, aos que aqui não estão,

saber da miséria menos impressa nos muros,

urgente como o que devora qualquer criatura.

Mas é puramente divina a danação.

Se não lhe ferem os humanos apuros,

a cada qual cabe a existência mais dura.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 21/11/2021
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