DESEJO DE VOAR

Mandou-me o meu amigo uma rosa

Colhida à madrugada em seu jardim.

Nas pétalas pedaços viu de mim,

Abrindo-se à mente engenhosa.

Senti cheiro, não sei se de alecrim

Ou de haste floral e perfumosa,

Penetrando-me o ventre poderosa

Como esgrima mortal de um espadachim.

A rosa era invisível, mas o gesto

Marcou mais que pensei e manifesto

Ficou o desejo intenso de voar.

Ir longe e derreter o iceberg

Da ausência e no leito de um albergue

Deixar o amigo a flor despetalar.