TRILHA DE SONETOS LIII - HEROICO PURO COM TRIO DE PALAVRAS: CALÇADA(S), INDIFERENÇA(S) e VISCERAL(AIS)

*SOB A LUZ DA ESPERANÇA*

A típica criança, preterida,

Vivia na calçada do armazém,

No aguardo, esperançoso, por alguém

Ceder-lhe o suprimento de comida.

Mas nada acontecia, e a referida

Figura, rejeitada, com desdém,

Sentia a indiferença, que também

Abria- lhe, no estômago, a ferida.

Porém, a expectativa de abastança

Chegava, na magia do Natal -

A cesta de alimentos, que afiança

A pausa na indigência visceral!

"Mas nada lhe afastava da esperança

No amor" - o nutriente essencial!

Aila Brito

*SONHOS*

Depois da tempestade, a calmaria

retorna ao coração debilitado

e a voz da indiferença silencia

e ri das incertezas do passado.

Depois do pesadelo, a poesia

procura o pergaminho aposentado,

na busca visceral da fantasia

da lenda do poeta tresloucado.

A vida se renova alimentada

dos restos das migalhas da calçada

que os dedos do destino lançarão.

O tempo apagará as cicatrizes

dos sonhos que perderam os matizes

nas ruas da soberba escuridão.

Adilson Costa

*OS INTOCÁVEIS*

Tropeçam nas feridas da indigência

e forjam nos discursos inflamados

um anjo protetor dos malfadados

posando-se de heróis da consciência…

Inibem, de propósito, os pecados

daqueles que os abraçam com frequência

e imputam aos rivais da convivência

as máculas dos réus desnaturados.

Enquanto nas calçadas dos famintos

as leis de inacessíveis labirintos

provêm de indiferenças viscerais,

nas largas alamedas dos congressos

circulam, intocáveis e confessos,

os deuses impolutos e imortais!

Edy Soares

*O TEATRO*

As lâmpadas celestes, noturnais,

Aclaram os mendigos nas calçadas,

Que em cânticos doridos, viscerais,

Refletem o infortúnio às madrugadas!

Tristíssimos: as lágrimas deitadas

De múltiplas angústias pessoais,

Misturam-se às verdades agravadas

No vão de indiferenças sociais!

Aquéns da famosíssima lembrança

Entregam-se às imagens de bonança

Nos êxtases dulcíssimos do sono!

Os homens, as mulheres e as crianças

São vítimas em busca de esperanças...

E Estrelas no Teatro do Abandono!

Ricardo Camacho

*OPRESSÃO*

Apagam-se da noite as arandelas

e faz-se a negritude repentina

no beco e na calçada, na ruína,

o lar dos miseráveis, em mazelas.

Inúmeros dormitam nas ruelas,

partilham a friagem da neblina,

e a fome impiedosa determina

as faces macilentas e amarelas.

Lamúria visceral que se avoluma

opõe-se à indiferença, sem nenhuma

resposta ou sensação de lenimento.

E segue-se a rotina dos senhores

que nunca se declaram opressores,

mas matam com caráter avarento!

Geisa Alves

*A GANÂNCIA*

Enquanto escapulimos das despesas,

As lojas nos espreitam boquiabertas,

Acendem os caninos em ofertas,

Na espera esfomeada por surpresas.

As vítimas transitam indefesas

Nas ruas e calçadas encobertas,

Alheias aos inúmeros alertas,

Serão posteriores sobremesas.

Humanos que se tornam desumanos,

Devoram-se em total indiferença,

Insanos, levianos e tiranos.

O mundo jorraria liberdade,

Se fossem viscerais, sem recompensa,

Os gestos em favor da humanidade!

Luciano Dídimo

*O ÉBRIO*

Caído na calçada, embriagado,

Pagando visceral comportamento

De haver realizado o casamento

Dos sonhos, todavia malfadado.

Depois do matrimônio consumado,

Ciúmes abalaram-me o momento

E o álcool plantou ressentimento

No amor que me pusera apaixonado.

Bebidas denegriram-me a presença,

Restando-me, somente, a indiferença

De todos e de tudo... e sem saída

Procuro lenitivo nos botecos.

Quem sabe, encontrarei os cacarecos

Da mente original arrependida.

José Rodrigues Filho

*DESVENTURA*

Revejo a desventura acentuada

no rosto do pedinte, e o ritual

em cada amanhecer, sem a morada,

jamais angariou o essencial...

Sentado, permanece na calçada.

No espírito, a amargura visceral!

Carência de alimentos na alvorada,

mas sonha com as sobras do Natal.

Na data ornamentada, a afobação

o torna transparente e sem ação

ao ver a indiferença desmedida.

Encara a ligeirice na avenida,

sabendo que o universo, esbanjador,

prossegue eternamente sem amor...

Janete Sales Dany

*UM FILHO E SEU DIAMANTE*

Qualquer situação envergonhada

Atrai opiniões desagradáveis,

E o pai embriagado na calçada

Possui as peripécias detestáveis.

Consiste em visceral cafajestada

De quedas em processos lamentáveis,

Sofrendo a permanente bofetada

Do escárnio de passantes miseráveis.

O filho, ao socorrer o genitor,

Renega a indiferença degradante,

Doando um caloroso cobertor.

Entende que acudindo o rastejante

No chão do vergonhoso dissabor,

Reluz, relapidando um diamante...

Plácido Amaral

*MILAGRE DE NATAL*

Dormia a pequenina na calçada,

no espaço diminuto da marquise.

(A mira dos passantes que analise

a cena comovente e delicada…)

De alguns, a indiferença escancarada,

por outros compensada na reprise

de olhares consentindo que deslize

a lágrima que corre emocionada.

E a pobre menininha, convencida,

que um sonho nos restaura e consolida,

aposta num lampejo visceral…

Confia no velhinho do trenó,

que a mima com docinho e dominó,

cumprindo-se um milagre de natal!

Elvira Drummond

*REBELDES MADRIGAIS

A tua indiferença vocifera,

fustiga o sonhador desiludido

que lança nas estrelas um gemido,

embebe o desconsolo na quimera.

Aquele seresteiro adormecido

do méleo sentimento se apodera

e enfeita a madrugada da sincera

ledice, refrigério de um ferido.

A luz da imensidade me atenua

as dores que fervilham na calçada,

refúgio de rebeldes madrigais.

Que o brilho preciosíssimo da lua

penetre na janela escancarada

e embale devaneios viscerais!

Jerson Brito

*ÂNSIA*

O célere pulsar de um coração,

Cantando solitário na calçada,

Em dor e indiferença malfadada,

Suplica fortemente em contrição.

Implora, caminhando sem o chão,

Na dor, impenitente e emaranhada.

O canto, que na rua enluarada

E célebre de estrelas... solidão.

O apelo amargurado que amiúde,

Na bruma se perdeu em um mistério

– A minha enfraquecida solitude.

O grito, entorpecente que eu incorro

– De um medo visceral e deletério—

Um simples alarido de socorro.

Eufrasio Filho

*O JOGO*

Frenéticos momentos, de esperanças!

Olhando criancinhas sorridentes

Jogando futebol, resplandecentes,

O jogo preferido das crianças.

Mas antes, demarquei as lideranças,

Dos vívidos contornos existentes,

Do espaço singular, e os componentes,

Da arena visceral, e das mudanças.

Na beira da calçada, torcedores,

Bradavam incentivos vencedores,

Eufóricos dizendo... venceremos!..

Cruéis indiferenças, da torcida,

Que logo no final, na despedida,

Calou-se, esmorecemos e perdemos.

Douglas Alfonso