Só a poesia é capaz de fazer o cocô de um passarinho pintar o chão da gaiola com as cores da liberdade. Herculano Alencar
A mágoa da gaiola
Viveu no cativeiro, toda a vida,
a borrifar cocô pela gaiola,
tentando, em vão, abrir a portinhola,
pra dar vasão à arte reprimida.
A alma tristemente cantarola,
gorjeios esquecidos no passado,
nalgum lugar há muito visitado,
que não coube com ele na gaiola.
E vai seguindo a vida o passarinho,
fazendo e refazendo o mesmo ninho,
a borrifar cocô dia após dia...
Até, que ao chegar a certa idade,
a morte vai lhe pôr em liberdade
e a gaiola, enfim, fica vazia.