*SONETO EXALTANDO A POESIA*

Métrica e ritmo alexandrino, decassílabo heroico ou sáfico.

Importante ressaltar que o tema escolhido também pontua o aniversário da fundação da Academia (ABRASSO), dia 14/03/2020, que, oportunamente, coincide com a data de aniversário do Poeta Castro Alves.

**POESIA ESTELAR**

O céu silencioso se apresenta...

De cá do solo a viva luz da lua

Contempla-me na prata cor e em sua

Incrível poesia que se ostenta.

A imagem lírica, celeste, aumenta

De imensidão na escuridão da rua,

Belas estrelas de uma cor tão nua

Fulguram na visão prata e magenta.

Brilhante o espaço pela treva infinda

Que envolve o ponto azul - a Terra linda -

De onde, sabemos, nascem os sonetos...

Razão liberta!... E o meu olhar vigia,

Com um encantamento de magia

Que me inspirou quartetos e tercetos!

(Ricardo Camacho)

**POESIA**

Em tudo estás presente, sim, te vejo

Na rosa que desmaia e se emurchece,

Nas lágrimas de amor, candor da prece,

No terno olhar, repleto de desejo.

Palpitas - e de um modo tão sobejo -

Nas tramas que o viver a vida tece,

No humano coração, a sua messe,

No mar das emoções no qual velejo.

Como existir sem ti? Eu me questiono...

Atravessar o mais severo outono,

Ser folha que entre folhas vai ao vento?

Por isso, minha amiga, aqui revelo

Que em tudo te procuro, busco o belo,

Seguir sem ti sequer cogito ou tento.

(Edir Pina de Barros)

**CONFIDENTE**

No farfalhar das folhas e no vento,

no rio e mar, nas rosas do jardim,

na chuva de verão, no azul sem fim,

no aroma do morango suculento...

Num cântico de amor ou no lamento,

no riso, pranto, glória ou dor, enfim,

neste desejo intenso e vivo em mim,

num beijo ou numa ausência que lamento...

Em tudo vejo e sinto a poesia

que nasce e enflora em aura luzidia

e abraça-me serena e ternamente.

Então componho o verso que me encanta

e seja minha verve insana ou santa,

na poesia tenho confidente!

(Geisa Alves)

**DEDICAÇÃO**

Pulei da cama hoje muito cedo,

Aliás, é assim que faço todo dia,

Não é, para ninguém, algum segredo

Ver-me fazer ao astro companhia.

O vento, vez em quando, sopra ledo,

Há nuvens pelo ar, de cortesia,

A passarada voa sem ter medo

E eu me vejo fazendo poesia.

Não me cabe ficar indiferente,

Ver o belo sem par, o sol nascente,

Sem dar graças por toda criação.

Sem, pelo menos, dedicar um verso,

Agradecendo a Deus esse Universo,

Feito que foi com tanta perfeição.

(Raymundo Salles)

**POESIA DIVINAL**

Deus é Amor, a divina Poesia!

Poesia da alma, querubim,

Que, já desde o batismo, mora em mim

E com divino amor de Eucaristia.

A Poesia é eterna e me extasia,

Sempre me acaricia com seu sim

E faz-se em mim começo, meio e fim,

Na voragem do tempo, todo dia!

Sem Poesia, não vivo um segundo.

Seu Verbo é refrigério no meu mundo,

Por força do louvor ao Deus da glória!

A Poesia é lábaro de luz,

Um dom maravilhoso de Jesus,

Para a minha eternal, grande vitória!

(J. Udine)

**SEREI EU UM POETA!?**

Serei eu um poeta?! Mas que nada!

Por ora nada fiz por merecer...

poeta é quem, chegado o alvorecer,

orvalha corpo e alma de alvorada...

Serei eu um poeta pela estrada?

Motivos não me dou. Não chego a ser!

Poeta é quem, chegado o anoitecer,

transforma a si em noite enluarada...

Eu nada sou além de alguém que, em verso,

declama sua dor, paixão, agrura...

do belo passo longe, rumo inverso...

Poeta de verdade é uma ventura

de quem, na poesia estando imerso,

transmuta noite em dia... em paz, tristura.

(Luciana Nobre)

**POÍESIS**

Formosa qual a flor que nasce pronta,

jamais deixou a verve em cerração,

colheu a simples meta que remonta

ao sopro bom, poética lição.

Se logo ali, o verso já desponta,

decerto não varia a tradição:

poesia vale mais que faz-de-conta,

navega acima, quer a perfeição.

Deslinda, enfim, qualquer dilema sério:

se somos todos parte de um etéreo

ou só lampejo de uma caminhada.

Assim a flor, a chuva e a correnteza

dos rios, a cantar real beleza,

também exaltam timbres de alvorada.

(Basilina Pereira)

**ALÉM DOS VERSOS**

Nos campos, nos trigais, no grão maduro...

Em cada plantação se faz zelosa;

Na tez de cada flor, no olor da rosa,

O seu encanto brilha, com depuro.

Nos corações afins, no enlace puro,

No dia, tarde ou noite preciosa,

No gesto amigo e em cada ação bondosa,

A sua essência vibra com apuro!

Além do verso, o dom sensorial

Passeia em outras artes... afinal,

Em tudo, a sua voz nos contagia.

Mas se derrama, quando à luz da lua,

Em seu delírio, encanta e fica nua,

Expondo-se, com graça, a poesia!

(Aila Brito)

**O PASTOR DE PALAVRAS**

(Soneto Alexandrino)

Ao tanger a palavra em feitio de ovelha,

o pastor do poema acomoda a cantiga.

E o trajeto a seguir, se trilhado “de orelha”,

revigora a cadência a indicar que prossiga.

E a palavra, contente a saltar, emparelha

o gingado do verso altruísta que abriga

os dizeres gentis, exaltando a centelha.

Com o canto, o pastor amortece a fadiga.

E a “palavra ovelhinha”, em versinhos, saltita…

Se obedece ao pastor, de aconchego desfruta,

e o pastor, qual Jesus, volta ao ver UMA aflita.

O rebanho tangido aos poderes da escuta

enaltece o valor da toada bonita,

ao trocar o bastão por sublime batuta!

(Elvira Drummond)

**O FUNDAMENTO DA POESIA**

Há quem diga afinal: a poesia

é algo que não lucra nem sustenta.

Algo que nem ao menos complementa

o bem-estar de alguma moradia.

O poeta só vive em utopia.

Segue caminhos que ele mesmo inventa.

Conta estrelas no chão, enquanto tenta

ver realidade em sua fantasia.

- Mas a poesia, fé na qual me apego,

acompanha-me, mesmo se carrego

angustiosas dores do viver.

Pisando no beiral do Abismo imenso,

paro no último instante... E apenas penso

em versos que me faltam escrever.

(Paulo Maurício G Silva)

**A POESIA**

Em quase tudo, a sinto e posso vê-la,

mas não consigo definir poesia;

e afirmo que mais fácil me seria

contar, no céu, estrela por estrela.

Bastar-me-ia apenas percebê-la

para satisfazer minha estesia

e me tornar agradecido pela

sensação com que ela me premia.

Vejo a poesia como uma expansão

do belo, em seus matizes mais diversos,

e do que Deus me fez “palavrador”.

Não sei, de fato, é defini-la. Então,

tento exprimi-la como a vejo, em versos

que, em prol de amor e paz, vivo a compor.

(Kleber Lago)

**VELHO POETA**

O crepúsculo eu via, antigamente,

como se fosse o símbolo do fim:

sem brilho...sem projeto... decadente...

a imagem do crepúsculo era assim!

A meia-idade trouxe, de repente,

feito oferta divina para mim,

a poesia - amiga e confidente -

e eu vislumbrei um outro ocaso, enfim.

Segui com a poesia sempre ao lado

e a minha caminhada foi tão linda

que eu mal vi se extinguir quase o meu prazo.

E agora, que o crepúsculo é chegado,

há tanta luz... mas tanta luz ainda

que eu não posso dizer que seja o Ocaso!

(Arlindo Tadeu Hagen)

**ABRASSO PARABÉNS - Nº 7.586**

Academia em festa ganha rima,

abraça o sonho, faz brilhar o norte,

acorda o plano, belos dons estima,

cativa amigos, torna o laço forte.

Sonetos puros pedem tom acima,

clave de sol pretende que eu aporte,

clássicos versos pedem pauta e lima,

no livre-arbítrio põem bom suporte.

Fundação brinda duas brancas velas

- os criativos querem ser aceitos -

publicação acende todas elas.

Cada escolhido fica bem risonho!

Quarenta nomes vencem outros pleitos.

O sonetista aguarda um novo sonho.

(Sílvia Motta Araújo)

**ILUSÃO PRIMAVERIL**

Sonhei com a suprema poesia

abrindo as portas amplas da quimera,

então, no inverno, a fase tão sombria

desfez-se e perfilhou a primavera!

Corri no campo ornado que queria,

previ que não teria fim, quem dera!

E, assim, logo ampliei a fantasia,

versei o amor até na estratosfera!

O sonho bom devia ser infindo,

mas acordei... perdi a inspiração,

e a vida não estava mais sorrindo.

Agora, escrevo versos de tristeza,

enfrento o duro chão da solidão...

Perdi aquele céu azul-turquesa!

(Janete Sales)

**DOM SUBLIME**

O aroma da palavra se revela,

expande as maravilhas da semente

e enleia as almas quando, docemente,

percorre ilimitada passarela.

Trazido da prolífera vertente,

o encantamento grita e, então, pincela

sorrisos radiantes na janela

aberta em cada olhar resplandecente.

As emoções, decerto, não reprime

aquele que do peito faz guarida

às vozes de quem louva o dom sublime.

Feliz assim, mergulha, sem recato,

nos braços da efluência, ao ver despida

a verve divinal de um literato.

(Jerson Brito)

**A POESIA**

Às vezes, se o poema está contente,

Eu toco a poesia em instrumentos,

Cantando doces versos para os ventos,

Recebo a poesia na nascente.

Às vezes, se o poema está doente,

Eu sofro a poesia nos tormentos,

Gemendo amargos versos em lamentos,

Oferto a poesia no poente.

Nas Rosas, eu encontro a poesia,

Nas cores e no aroma, em cada espinho,

Nos versos que, das pétalas, escorrem.

Diferem os poemas, todavia,

Das rosas, em seu rápido caminho,

Que brotam, desabrocham, depois morrem!

(Luciano Dídimo)

**A POESIA**

A poesia é o brilho do luar

que os corações sensíveis incendeia...

Tão belo e prateado sobre o mar

que dança sob a luz beijando a areia.

Presente está num pássaro a cantar

e nas montanhas altas em cadeia;

Numa família, quando há paz no lar,

Num músico, percorre cada veia.

É a voz das cachoeiras e dos rios

Que, às vezes, sofrem muitos calafrios...

Na primavera afaga cada flor.

Pincela o céu em cada sol poente;

A poesia em tudo está presente,

Nasceu das digitais do Criador!

(Marlene Reis)

**RITUAL**

A vida é bruta... a todos chicoteia

sem um pingo de dó ou de embaraço...

Fulmina sonhos... tolhe nosso passo...

e distribui sopapos à mancheia...

Mas tu me dás, Poesia, o teu abraço...

E já não vejo a vida assim tão feia...

Minh'alma, num instante, devaneia,

E não despenco mais em meu cansaço...

As mágoas desta vida até compensam,

quando venho pedir a tua benção,

tocando tuas vestes cor de neve...

Tu és, Poesia, a minha mãe de santo:

Bato a cabeça em teu gongá de encanto...

e sinto meu espírito mais leve...!

(Pedro Melo)

**À POESIA**

És luz dos raios mais resplandecentes,

És estrela de um céu de muitas cores.

Consolo incomparável para as dores

Dos corações tristonhos e doentes.

És flor – a mais esplêndida das flores!

Cristal entre os cristais mais reluzentes;

És tu, com teus encantos transcendentes,

A tradução de todos os amores.

Na vida do poeta, és tu que pões

Sabor nas intempéries do viver,

E calma, nos momentos de euforia.

És tu a glória eterna de Camões,

És fonte inesgotável de prazer,

E atendes pelo nome de Poesia...

(Pedro Paulo Paulino)

**AMOR DE FORMA ESCRITA**

 

De cada encontro, sou ditongação,

De cada desencontro, sou hiato,

Sou paradoxo e antítese de fato,

Da certeza, o talvez - o sim, o não.

 

Do solitário, a voz da solidão,

Pleonasmo silente e imediato,

A esbravejar num verso correlato

Ao dolente romper – Separação.

 

Sou também elisão no afã do amante,

A sinalefa d'alma flamejante,

Esse pleno sentir que ao ser excita.

 

E na alcova da lauda, o vate ama

Cada palavra qual casal na cama:

Poesia é o Amor de forma escrita.

 

(Paulino Lima)

**DESCOBERTA DA POESIA**

A vida em flor, no ínício da jornada,

nenhuma sombra em meu trajeto havia!

Os sonhos bons, na fresca madrugada,

manhãs festivas, noites de alegria!

Menino apenas, sem saber de nada,

recordo, vivamente, um belo dia,

a primavera, em festa, iluminada,

plantou, em meu caminho, a poesia.

Pois sucedeu, naquela tarde quente,

arteiro, o Amor flechou-me fatalmente,

trazendo dor tamanha em sua seta.

Embalde, ao mal do Amor busquei remédio,

até que, por acaso, em meio ao tédio,

lavrei meu canto e me tornei poeta!

(Fernando Belino)

**NUANCES DE UM POEMA**

Não vejo em tudo encanto e poesia.

Quisera!... Quase sempre o coração,

amante do poema e da canção,

se encanta e escreve um verso que extasia.

Não vejo em tudo o encanto que eu queria.

Pudera!... Quase nunca o mesmo chão

abriga e distribui, na mesa, o pão

e aquece os desiguais na noite fria...

Sem percebermos, a arte instiga a gente

a expor, de forma alegre ou deprimente,

nos versos das canções ou de um soneto,

nuances deste mundo complicado

que a inspiração descreve com cuidado,

desde as mansões da corte ao simples gueto.

(Edy Soares)

Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO
Enviado por Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO em 06/04/2022
Reeditado em 10/11/2023
Código do texto: T7489212
Classificação de conteúdo: seguro
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