TRILHA DE SONETOS LVII- VERSOS HENDECASSÍLABOS, NO RITMO GALOPE À BEIRA-MAR, COM TRIO DE PALAVRAS: LUA(S), JANELA(S) e VIDA(S).

*VÉUS NOTURNAIS*

O efêmero dia assemelha-se a um sonho,

A noite desperta nos beijos da lua

Que expulsa do céu o semblante tristonho

E em vida confirma que a luz continua.

Contempla, a donzela, de olhar enfadonho,

Ao pé da janela, as pessoas na rua

Dançando, no império noturno, risonho,

Enquanto a saudade no peito acentua.

Convém destacar a união dos enredos

Na mira dos rostos com olhos astrais,

Tornando evidente os celestes segredos

Por entre as estrelas que são iniguais,

E assim se retira a coragem dos medos

Que muitos encobrem com véus noturnais!

Ricardo Camacho

*DECLARAÇÃO À LUA*

Da minha janela, de encanto envolvido,

Por ela suspiro, sonhando acordado;

E vendo-a, fulgente, depressa decido

Fazer-lhe um poema de amor consagrado!

Em versos declaro o sentir incontido,

Que albergo no peito e me deixa assanhado,

Querendo expressar o que estava escondido

No cerne do amor, por saber aflorado.

Arroubos da vida, de ardor e segredo,

À lua ofereço a emoção que ressoa

No meu coração ilibado, sem medo...

Porém, surreal, sem afagos quaisquer!...

- Por essas lacunas de afetos, perdoa

O infante poeta que tanto lhe quer!

Aila Brito

*MUTAÇÕES*

Por entre as janelas da vida constato

que tudo se alterna de tempos em tempos.

A lua rebrilha em gentis passatempos

e os dias revivem das noites – um fato.

Amores ressurgem nos vãos de um hiato,

paixões recrudescem no fim de entretempos.

O riso retorna, sem mais contratempos,

no outono do ser e percebo-me grato.

Viceja o jardim se a semente falece,

as dores sucumbem na força da prece,

sucede, de um mal, a existência do bem.

Se o novo renasce do velho e do antigo,

ao rito que tudo transforma bendigo,

num verso de fé que de angústias provém!

Geisa Alves

*A GRAÇA DIVINA*

No escuro do quarto descubro a janela,

A lua bondosa derrama o luar,

Estrelas sorriem no seu cintilar,

A noite agradece, sentindo-se bela.

O sol logo vem sem nenhuma cautela,

E espalha com força, por todo lugar,

A luz radiante que faz despertar

O mundo que dorme na sua capela.

Às vezes o mal nos parece maior,

Pois não enxergamos de modo profundo

Aquilo que a vida nos traz de melhor.

Nem sempre enxergamos milagres no mundo,

Pois não percebemos ao nosso redor

A graça divina segundo a segundo!

Luciano Dídimo

*LUARES…*

A lua vestida com trajes de prata

abraça poetas com braços de luz…

Canções e versinhos vibrantes compus

(devolvo a atenção com vivaz serenata).

A lua minguante salpica na mata

um brilho discreto — visão que me induz

a ver, na janela da sombra, Jesus

que rompe a penumbra com paz que arrebata…

Nos ciclos, a lua demarca e reparte

percurso refeito com brilho e com arte.

A mão divinal que maneja o pincel

repõe os matizes e segue fiel…

Copio da lua a sublime lição:

no escuro da vida, refaço o clarão!

Elvira Drummond

*VOLÚPIA*

Acordo e coloco o sorriso no rosto,

pois há o notável vigor que perdura,

assim que amanhece e atenua o desgosto

de ter a saudade insistente, sem cura!

Relembro as manhãs sedutoras de agosto,

onustas de agrados, fascínio e ternura...

O sol na janela surgia disposto,

será que assistia a ardorosa loucura?

Procuro, através das lembranças da vida

a célebre lua que havia, a paixão,

e o meu coração acelera a batida!

A noite desperta o desejo e sorrio...

Queria perder novamente a razão,

sentir a emoção preenchendo o vazio!

Janete Sales Dany

*TEMPO... TEMPO.*

Passando, à tardinha, no céu azulado,

A lua em crescente, teimosa, revela,

Que o sol, merencório, deixou a janela,

E dela será o dossel prateado.

A vida na Terra, lugar encantado,

Depende da luz clareando sem vela,

Tornando o luar, a perfeita aquarela,

No quadro maior do pintor renomado.

Seria tristonha, sem noite, a existência...

A estrela, da gente, a luzir calcinando

O solo fecundo, deixando em latência:

Mulheres, varões e demais criaturas.

Surpresas que o tempo se esmera gerando

Mudanças profundas em fases futuras.

José Rodrigues Filho

*LUA DE SANGUE*

A lua cintila pintada a pincel,

Os gládios refletem estrelas da aurora

E o sangue respinga, manchando o broquel;

Assim, a batalha, a virtude devora.

Cavalga o guerreiro que a vida penhora

– A cada combate no alado corcel –

Diante da morte iminente e sonora.

Na mente a lembrança do amor no dossel,

O leito divino, a janela e o luar.

Por isso prossegue em embates mortais,

Visando vencer na intenção de voltar.

— Que chorem as damas, a minha jamais!

Exclama ao pisar sanguinário lagar,

Vencendo e rumando ao pacífico cais.

Eufrasio Filho