De BELIANIS DE GRÉCIA A D.QUIXOTE DE LA MANCHA
Miguel de Cervantes
Rompi, cortei, amolguei, fiz e refiz
Mais que no orbe cavaleiro andante;
Fui destro, valente, arrogante;
Mil agravos vinguei, cera mil desfiz.
Façanhas dei a Fama que eternize;
Comedido e regalado amante;
Foi anão para mim todo gigante
E ao duelo em qualquer ponto satisfiz.
Tive a meus pés prostrada a Fortuna,
E trouxe do copete minha cordura
À calva Ocasião ao estricote.
Mas, ainda sobre os cornos da lua
Sempre se viu no cume minha ventura,
Tuas proezas invejo, ó grão Quixote!
***************************************
De Culinha de Piripiri para Zé Pixote de lambança
Herculano Alencar
Bebi, cantei, dormi e vomitei,
Nas mesas de duzentos botequins.
Mijei até formar pedra nos rins,
E fiz da boemia a minha lei.
Amei, como um vassalo e como um rei,
As damas da esquina do pecado.
Deixei tanto lençol ejaculado,
Que já perdi a conta, ou não contei.
Varei noites em claro pelas ruas,
Vivendo e aprendendo falcatruas,
Com um lenço amarrado no cangote
Se fui entre os boêmios um gigante,
Me curvo em reverência, neste instante,
Ao deus da boemia: Zé pixote.