Meus Olhos, Atentai no Meu Jazigo
Manuel du Bocage
Meus olhos, atentai no meu jazigo,
Que o momento da morte está chegado;
Lá soa o corvo, intérprete do fado;
Bem o entendo, bem sei, fala comigo:
Triunfa, Amor, gloria-te, inimigo;
E tu, que vês com dor meu duro estado,
Volve à terra o cadáver macerado,
O despojo mortal do triste amigo:
Na campa, que o cobrir, piedoso Albano,
Ministra aos corações, que Amor flagela,
Terror, piedade, aviso, e desengano:
Abre em meu nome este epitáfio nela:
“Eu fui, ternos mortais, o terno Elmano;
Morri de ingratidões, matou-me Isabela.”
Epitáfio
Herculano Alencar
Como disse Bocage, já não sou
O poeta herculano Herculano,
E se hei de viver por mais um ano.
Quando menos espero já passou...
Se Bocage soubesse do meu plano
De fazer um poema em seu louvor,
Mandaria algum verso pra compor,
Nem que fosse por pena ou por egano.
Um versinho qualquer, novo ou antigo,
Que coubesse inteiro em meu jazigo,
Pra provar que em vida fui poeta.
Poderia dizer um algo assim:
"Se alguém não quizer lembrar de mim,
Feche os olhos e siga em linha reta.