Árias Noturnas

Vaga a lua trêmula sobre o horto,

Num silêncio profundo de outras eras,

Quando levavas o meu sonho morto,

Na solidão das roxas primaveras.

A saudade atracando em algum porto,

Como outrora no peito já fizera,

Destino final d'um olhar absorto

A penumbra da cova que lhe espera.

Ai ergue os olhos tu que já sofreste,

E o céu que enubla-se em brumas no poente

A imagem do passado lhe teceste.

Seguem-me os passos sombras funerárias,

De noites que se foram lentamente

Cantando para mim as tuas árias...