PORQUE

Duas palavras causam-me espanto.

Porque é uma delas, quando indaga,

E a outra, o porquê, tirando o manto

Da dúvida, e uma vida inteira estraga.

Por que me perguntei chorando tanto

Tal me ferisse o gume de uma adaga

E respondi eu mesmo sob o pranto

A escorrer-me às faces feito vaga.

E as duas orações coordenadas,

Deixando as suspeitas explicadas,

Revelaram-me a força do porque.

Na conjunção causal, pelo desejo,

Por que a relação perde o lampejo

Tem no amor de um que acaba o porquê.