Receita
Receita de um soneto parnasiano,
alguém que a tenha traga, por favor!
Estou aqui perdido, em meu lavor,
trabalho que até julgo desumano.
Por certo foi fatal meu ledo engano:
Querer ser um Bilac, em esplendor!
E agora, vejo, cheio de pavor,
por água abaixo vai meu belo plano.
De ebúrneas catedrais, cantando o brilho,
eu forjo, soldo e lépido esmerilho,
mas faço um verso anêmico demais!
Tristonho, nesta lavra, em que me meto,
descubro, em desespero, que o soneto
é joia reservada aos Imortais!