Na boca exagerada de um qualquer

Na boca exagerada de um qualquer

esculpe-se, à toa, um sorriso...

Conta, como legítimo narciso,

que a alegria na vida é mister.

Então levanta os braços, sem aviso,

e os balança, feliz como mulher.

"Amo a vida!", ele grita porque quer,

ao passo que eu, a sós, me escandalizo.

Essa boca qualquer exagerada,

seu riso tolhedor de meu ser só;

como odeio a alegria desvairada!

Gigante na garganta faz-se o nó.

Só de ouvir a mais tímida risada,

eu rezo para Deus tornar-me pó.

26/08/2022

Malveira Cruz
Enviado por Malveira Cruz em 26/08/2022
Reeditado em 04/09/2022
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