Importuna Razão, não me persigas

Importuna Razão, não me persigas;

Cesse a ríspida voz que em vão murmura;

Se a lei de Amor, se a força da ternura

Nem domas, nem contrastas, nem mitigas;

Se acusas os mortais, e os não abrigas,

Se (conhecendo o mal) não dás a cura,

Deixa-me apreciar minha loucura,

Importuna Razão, não me persigas.

É teu fim, teu projeto encher de pejo

Esta alma, frágil vítima daquela

Que, injusta e vária, noutros laços vejo.

Queres que fuja de Marília bela,

Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo

É carpir, delirar, morrer por ela.

Autor: Bocage

Kaynne
Enviado por Kaynne em 14/09/2022
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