BIROBIDJAN &+

Nem sei porque, há alguns anos, escolhi

o Birobidjan para um tema de sonetos;

alguns de meus motivos são secretos

e nem eu mesmo os posso compreender.

Pois muito bem. Então o vamos empreender.

Foi o Birobidjan um desses projetos

que receberam bem mais críticas que afetos:

pátria judaica se iria ali estabelecer...

Foi pouco mais que uma loucura Stalinista,

sujeita a seus caprichos de tirano:

ao Extremo Oriente enviaria seus Judeus,

como uma forma de impedir conquista

pelos Chineses do território siberiano,

pelos Sovietes contado junto aos seus.

BIROBIDJAN II

Era o Pogrom um esporte nacional

entre os Russos e também dos Ucranianos:

incêndios, mortes e outros atos desumanos

contra os Judeus, sem punição real.

Mas como muitos comunistas, afinal,

eram Judeus, compreendem-se os afanos

que influenciaram a mente dos tiranos

à concessão de um território nacional.

E toda essa juventude comunista,

buscando embora o próprio território,

não partilhava do sonho sionista;

longe que fosse de Israel, seria

melhor que o perigoso consistório

que em "assassinos de Jesus" os descrevia.

BIROBIDJAN III

David Berelson, desta forma, defendeu

a ideia de emigrar com entusiasmo,

por mais que lhes pudesse causar pasmo

tão distante lugar do que era seu.

E a Josip Stalin depressa convenceu

que os Judeus fossem comer pão asmo

no Extremo Oriente, junto àquele casmo

que de Mar de Okhotsk o nome recebeu.

Eram dois rios, o Biro e o Bidzhan,

afluentes do Amur, bem mais potente rio,

junto à Mandchúria, atendendo o russo afã

de defender essa terra siberiana

contra os Chineses, ocupando esse vazio,

também impedindo a expansão coreana.

BIROBIDJAN IV

Nos arquivos que em iídiche escreveu, (*)

Berelson maravilhas apontou,

a aspereza e o frio não mencionou,

duas mil famílias a emigrarem convenceu.

(*) Língua dos judeus asquenazim da Europa Oriental, 85% do alemão medieval, 5% de hebraico e 10% de polonês, russo, etc.

Mas logo a gente infeliz se arrependeu:

Meshe Gessen a verdade revelou: (*)

Inundação o plantio desarraigou

e de carbúnculo seu gado pereceu!...

(*) Em seu livro "Birobidjan: Onde não há Judeus."

Pois na verdade era uma terra montanhosa

e no inverno inóspita e gelada:

a maior parte retomou a ferrovia;

para o oeste os levou sorte inditosa

e alguns mesmo iniciaram a empreitada

de para a América fazer a travessia...

BIROBIDJAN V

Porém chegou aquela guerra tão terrível,

pelos nazistas milhões executados,

e centenas de milhares deslocados:

após a guerra, seu retorno inatingível,

por ordem de Stalin enviados para a incrível

vastidão siberiana e ali alocados

nessa Oblast Autônoma confinados,

após viagem de penúria indescritível.

Deu-lhes direito de falar iídiche e hebraico

e cultivar as suas antigas tradições,

porém Stalin era mau e caprichoso

e se pôs a perseguir, em vezo arcaico,

a pobre gente, acusada de traições:

nacionalismo para os Sovietes perigoso!

BIROBIDJAN VI

Oitenta e cinco milhares tem hoje de habitantes,

porém só uns quatro mil sendo judeus;

há renascimento dos interesses seus,

Yiddishkeit é a Tevê dos imigrantes.

Só em 2012 abriu-se escola, como dantes,

e em 2004 a sinagoga dos hebreus,

a qual frequentam os que não são ateus,

com crescimentos lentos mas constantes.

Em 1931 inaugurou-se a capital;

do território o nome compartilha...

Não mais perseguem os "cosmopolitas sem raízes"

nesse fraseado do Stalinista conceptual.

Novo Israel, longa estrada se palmilha,

sem que de Jerusalém as ruas pises!...

CELLPHONE I -- 1º OUT 2017

Eu uso apenas a roupa necessária,

sem ostentar enfeite ou especiaria;

por que relógio de pulso eu usaria

ou um anel, colar, medalha vária?

De igual maneira, nessa atual, atrabiliária

rede social, dos celulares a mania

ou de tablets, smartphones, não iria,

nem aceitar tal despesa perdulária!

Na verdade, tudo isso é comercial,

pois quantos mais tweets enviados,

mais alta a conta a ser apresentada

e as pessoas param até de conversar,

nestes modismos por que são dominados,

sem conseguirem mais deles se afastar!

CELLPHONE II

Até hoje não adquiri um celular,

que usar o meu email já é bastante,

o Facebook para mim é inquietante:

manter diário para outrem acessar?

Não é questão apenas de mostrar

meu pensamento à amiga ou à amante,

por que me expor de forma delirante

a qualquer um que me queira desvendar?

E ao mesmo tempo por que ir desgastar

meu tempo a ler e a mandar mensagens

que facilmente poderiam esperar

até o irmão ou o sócio se encontrar,

face a face, em materiais paragens,

sem um satélite precisar de atravancar?

CELLPHONE III

E pode hoje haver coisa mais perigosa

que andar por avenidas a teclar?

Dando margem a quem quiser-nos assaltar

ou se expondo a esmagamento em rua airosa?

Bem raramente uma corrida é vagarosa,

algum limite de velocidade a respeitar

e quando a via lhes parece vaga estar

ainda dirigem em borracheira tenebrosa?

E pode haver reunião mais insociável

de um bando de amigos ou parentes,

sentados numa roda, seus olhares

para what's-apps em fluxo interminável,

desdenhando de olhar para os presentes,

mas concentradamente em seus teclares?

CELLPHONE IV

Talvez eu seja o derradeiro morador

desta cidade que não tenha celular;

eu não preciso de hora consultar

nem me tornar de alguém o seguidor.

Dos meteorologistas não sou o fiador,

sua inconsistência posso bem notar,

cada canal sua previsão a dar,

quem pretende da atmosfera ser senhor?

Assim eu fico a lutar contra a maré,

não dando as costas para atender cellphone:

somente a febre da poesia me consome.

e em sonetos deponho toda a fé,

sem me ligar a verso livre ou branco,

que soa para mim bem pobre ou manco!

LOBISEATO DE LICANTROPIA I -- 2 OUT 17

Hoje em dia, quase tudo é proibido:

não se pode mencionar da pele a cor;

a homofobia é punida com horror;

ser branco hoje é crime a ser punido!

"Dívida Histórica" é o lema requerido

para cobrar da sociedade algum valor,

indefinido seu credor ou devedor,

após cem anos depois haver nascido.

Os descendentes de um antigo escravagista

talvez mesmo tenham algo a devolver,

mas e os milhões que só após a abolição

imigraram para aqui em nova pista,

nenhum escravo chegando a conhecer

e progrediram por trabalho e profissão?

LOBISEATO DE LICANTROPIA II

Muitas mentiras se proferem deslavadas,

como se os brancos fossem só senhores

e os negros só infelizes perdedores,

realidades em tudo deturpadas...

Dos europeus as gerações passadas

foram compostas por escravos servidores;

não havia negros submissos a opressores:

escravos brancos das levas conquistadas.

E sob o nome de "servos" continuaram,

quase ao término do século dezenove;

escravos brancos para o Brasil mandaram,

chamados "degredados". Aos portugueses

a escravidão dos ameríndios se comprove,

mas os negros nos trouxeram os holandeses!

LOBISEATO DE LICANTROPIA III

Pleno direito admito a homossexuais

vazão a darem a suas proclividades,

que manifestem suas individualidades,

porém sem as imporem aos demais.

Nem que busquem converter a seus iguais

crianças, desde as mais tenras das idades;

se de pedófilos se condenam iniquidades,

propagar homossexualidade o é ainda mais!

De fato, é um tipo racial de suicídio,

que a conversão às drogas equiparo;

que cada um mostre orgulho do que é,

mas nessa marcha se vai louvar o homicídio,

que à "humilhação dos presos" já comparo,

dada a ampla difusão dessa má fé!...

LOBISEATO DE LICANTROPIA IV

Por que então combater canibalismo

se de alguns de nós reflete a natureza?

Vamos reabrir as arenas com certeza,

que os gladiadores nas telas são modismo!...

Por que então combater o vampirismo,

se sugar o sangue alheio alguém já preza,

em quantos filmes e romances a nobreza

de alguns vampiros se atesta sem egoísmo?

Vamos, portanto, aos lobisomens apoiar,

alguma droga potente conseguindo,

para que nunca retomem forma humana!

Lobiseato de Licantropia a se chamar,

o Ministério da Saúde a distribuindo

como respeito a essa antiga forma arcana!

ESCRIBARIA I -- 3 OUT 2017

Estou cansado de redigir poemas

a descrever as coisas que me cansam;

de nada adiantam e a ninguém amansam,

de circunstâncias sob o controle apenas.

Serão queixas inúteis de minhas penas,

estrebaria adubada em que se lançam,

escribaria os motes que aqui dançam

diante dos olhos em mil inúteis cenas.

Já que em nada interessam aos possíveis

leitores de meus tolos desabafos,

pois nem sequer a mim mesmo já interessam...

tudo apenas consequências previsíveis:

condenados a afogar em batiscafos,

mergulhados em meu sangue sem que o meçam.

ESCRIBARIA II

Provavelmente, daqui a cinco anos

ou mesmo mais, quando chegar a ocasião

de retomar os rascunhos que aqui estão,

meu tempo a recobrar dos desenganos,

eu me desgoste a erguer imundos panos

envolvendo estas queixas sem razão

e se prendam em farrapos nesta mão,

sem ao mundo libertar de tantos danos.

Eu sei que muitos até se identificam

com os mesmos sentimentos represados,

politicamente incorretos nesta via;

mas minhas tolices tão só exemplificam

os pensamentos de meus antepassados

que igual que eu hoje julgarem percebia!

ESCRIBARIA III

Mais do que nunca meus rascunhos se acumulam,

já de poeira e de mofo marchetados...

Vou amontoando suas pilhas pelos lados,

velhas aranhas dentre esses maços pulam!

Percevejos quiçá também pululam,

serão até por muquiranas frequentados;

os cascudinhos proliferam, anelados,

lepismas e traças por alimento emulam!

E quando vou passar a limpo o original,

ali o encontro tão cheio de buracos

que muita coisa é preciso adivinhar!

E os aracnídeos protestam, afinal,

porque suas teias eu reduzo a cacos

e seus reclamos sou forçado a aturar!

ESCRIBARIA IV

Tudo pensado, é questão de ecologia,

pois meus rascunhos vida já perderam

e esses insetos que seu papel comeram

direito têm à vida e à harmonia!...

Muita gente sequer sabe que existia

a muquirana. Percevejos já esqueceram,

os gafanhotos quase desapareceram,

não há mais nuvem que o lar nos invadia!...

Pois respeitemos as espécies em extinção!

Os escorpiões e as falenas são sagrados,

a traça e o mofo que sejam apoiados!

E para o maranduvá estendo a mão,

pois tem direito, como membro da natura,

de me causar a mais horrível queimadura!