DEBANDADA (2)

(Inspirado numa postagem do Fórum do Soneto)

Pobres nordestinos em debandada.

Nunca foi boa a vida de antes,

Pior agora, que são retirantes,

E só lhes resta a poeira da estrada.

Deixam o que tinham, ou seja, nada.

Ossos à mostra, pontas perfurantes,

Encaram o destino, cambaleantes.

Como apoio, o cabo da enxada,

A cujo toque a mão se acostumou.

De tão juntos, a ele se amoldou,

Como fossem uma coisa só.

E do alto, lhes vem mais um castigo:

Sobre o seu corpo sem nenhum abrigo,

O Sol inclemente queima sem dó.

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O amigo Herculano Alencar comparece com esta bela interação.

EMIGRANTE

E lá se vai o pobre emigrante,

Perdido nas veredas do destino:

Um jegue, um cachorro, um menino...

Uma mulher um pouco mais adiante.

Um lago de suor, o sol a pino...

Um pranto a consolar o pensamento;

Um soluço que foge com o vento,

Pra bem longe do solo nordestino.

E lá se vai, levando a esperança

De encontrar, por onde a vista alcança,

Onde possa encostar a sua fé.

E quando a vista, enfim, se emaranha,

Enxerga, à distância, uma montanha,

E roga que ela vá a Maomé.

abração amigo Jota

Jota Garcia
Enviado por Jota Garcia em 10/10/2022
Reeditado em 11/10/2022
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