SOBRE CICLOS E CALENDÁRIOS

 

Calendários e agendas me amedrontam
porque meu pensamento se recusa
a entender o que é tempo, rebeldia
inútil de quem já nasce perdido.

 

Viajo sem roteiros e sem mapas
neste campo impossível, de pegadas
embaralhadas – tempo feito espaço,
sempre infinito, mesmo que termine.

 

Sei dos dias e meses e estações,
sei dos ciclos e vidas e distâncias,
mas neles não me ajusto ou localizo.

 

Por isso a cada dia venço o medo
de viver, mais que a doença, a fome, a morte.
Renasço quando, enfim, quase desisto.

 

(Soneto incluído no livro "Oração", que está em produção)