Falso prurido
Em nome da moral e do costume,
O talento se rende ao malfeito.
E o artista, que sempre é o suspeito,
Serve, à moralidade, como estrume.
Em nome da moral, bate no peito
O coração dos homens sem moral.
E o outro acha tudo natural,
Desde que não invada o seu direito.
E como a causa é parte do efeito,
A flor há de exalar o seu perfume.
Em nome da moral e do costume,
Uma flor sem perfume tem defeito.
Um moralista, como um vaga-lume,
Ora acende ora apaga o preconceito.
Herculano Alencar