Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.
Fernando Pessoa
Viva vento! leva...
O vento leva a dor e a amargura,
Como se fossem bolas de sabão,
Que mesmo sem saber pra onde vão,
E sem saber o quanto a vida dura,
Seguem sem rumo, ou tempo, ou direção...
Em breve e excitante aventura.
E mudam de formato e, a certa altura,
Estouram e despencam sobre o chão.
O vento, que assobia na janela,
Esconde, ao mesmo tempo em que revela,
Os segredos das bolas de sabão.
E sendo às vezes brisa ou ventania,
Ou simplesmente o sopro de quem cria,
Jamais há de levar bolas, em vão.
Herculano Alencar