A cega que vê e a muda que fala

Se tu olhares bem uma pintura,

Verás a poesia, ali, calada,

À espera de mais uma pincelada,

Pra revelar à arte o que procura.

Pois na pintura a poesia é muda,

E fala por sinais, sem dizer nada,

E deixa a tela inteira bagunçada...

Enquanto o pintor atento estuda.

Se tu olhares bem, há poesia

No branco de uma tela, inda vazia,

Que espera do pincel um beijo ardente.

E ainda que enxergue em branco e preto,

Despeja um mar de tinta no soneto

E fala, e vê, e diz, tudo o que sente.