MOTIVO

MOTIVO

— “Vai, poesia, tocando onde mais dói,

Eis-te um motivo: Toda essa tristeza...

O mundo sobre os ombros que me pesa,

Nas sombras d’este olhar de anti-herói”.

“Sim, destila o veneno que corrói

Meu coração partido e sem grandeza:

Em decadentes versos, a beleza

De ruínas que o tempo em vão destrói".

“Atravessa-me n’alma imensidões,

E encontra alguma luz nas solidões,

Antes que tanta angústia me consuma".

“Como a vida que em nadas se reparte

Possas, poesia — inútil-mas-bela-arte —

Também existir sem razão nenhuma”.

Belo Horizonte - 12 03 1995