CORAÇÃO FAMINTO

Sem conseguir conter a fome urgente,

sentado à mesa farta em devaneio,

degusto meu banquete e saboreio

o prato que me torna inconsequente.

Efêmero, o prazer me deixa alheio

às chagas que legaste enquanto ausente

dos braços onde o amor se fez vertente

de tantas emoções e, então, pranteio.

Os olhos, macilentos refletores,

afagam a ilusão, resgatam cores

guardadas desde o dia em que partiste.

O coração festeja alimentado

porque, solerte, o brilho do passado

lacera a escuridão de um quarto triste.