A MENINA QUE MATOU O PAPÃO 9/10

A MENINA E O PAPÃO IX

Tching falou bem lentamente, então:

"Ah, Meiling, que coisa mais horrível!..."

"Tchang me deu umas lascas afiadas,

Tcheng me deu umas agulhas aguçadas,

mas eu acho que não vai adiantar, não..."

"Acho que tens razão, infelizmente,"

disse Tching, abanando sua cabeça.

"Mas tu sabes que eu ainda sou solteiro

e meu quartinho fica sobre o galinheiro:

é um cheiro horrível e não há quem aguente..."

"Mas, Tching, eu não me importo com o fedor..."

"Escute, eu vendo a titica como adubo...

Toma um pacote com cocô de galinha:

esfrega na tua porta essa pastinha,

que o Papão vai se encostar de tanta dor..."

"Nos seus talhos, a titica vai arder,"

continuou Tching, com voz bem convincente.

"E ele vai sentir ainda mais dor;

ficar meio sufocado com esse odor

e pela estrada bem depressa irá correr..."

E Tching se escapou, devagarinho...

Os olhos de Meiling se encheram d'água...

Os seus amigos todos iam embora

quando mais precisava, nessa hora...

E então mais um surgiu pelo caminho.

Usava o homem sandálias de madeira

e um chapéu de aba larga na cabeça,,,

Tinha uma trança longa, olhos puxados,

o rosto e os braços meio amarelados,

descendo, sem ter pressa, uma ladeira...

A MENINA E O PAPÃO X

"Ai, Tchong, como é bom eu te encontrar!"

"Meiling, minha bela garotinha!

Você não estava na casa de seus pais?

Como é que eu te encontro, uma vez mais...?"

Falou o rapaz, sem vontade de parar...

"Tchong, querido, me escuta, por favor!

Eu encontrei o monstro Tereng Ganu

e ele vai hoje de noite me pegar!...

Ele falou que não adianta eu me encerrar:

estou com medo, louca de pavor!..."

"Ora, que pena! Vou sentir falta de ti..."

"Tchang me deu umas lascas de bambu;

Tcheng me deu um pacote de agulhinhas;

Tching me deu a titica das galinhas,

mas eu não posso passar a noite ali!..."

"Deixa eu dormir em tua casa, por favor!"

Tchong hesitou e falou, embaraçado:

"Olha, Meiling, querer até eu queria,

mas eu não tenho casa... A moradia

é um barraco, sem conforto, nem calor..."

"É apertado demais, meu coração,

fica junto do laguinho dos meus peixes...

Mas escuta, toma aqui esta latinha:

são peixes vivos, põe na tua cozinha,

numa panela, em cima do fogão..."

"Quando o Papão se sujar todo, vai querer

se lavar nessa água da panela...

Aí os peixes vão lhe morder a mão

e depois de mais esta confusão,

ele vai sair aos berros e a correr!..."