A LENDA DA TÉCNICA E DA INSPIRAÇÃO

CAPÍTULO I – O HEREGE

Meu caríssimo e querido amigo, não diga mais tamanha heresia.

Tudo quanto é grego da face do planeta terra tem a convicção

De que o irmão da deusa Artêmis, Apolo, é sim deus da poesia.

Se ele não existisse, com certeza, poema algum existiria não..

O Apolo não possui uma função somente. Ele é deus da profecia,

O deus sol, deus das artes, deus da medicina e excelente arqueiro.

Os outros deuses gregos têm uma função só. Por isso eu lhe diria

Que com tantas funções, não vá se dedicar a poesia por inteiro!

Eu afirmo: Não existe o deus da poesia. Então alguém arrotou.

Diz por aí que o deus da poesia é o popularíssimo deus Apolo.

Tal mentira caiu na humanidade como luva e se auto encaixou.

Eu lhe imploro! Não diga jamais tal blasfêmia, meu caro amigo!

Se alguém lhe ouvir falando isso, vai dizer no mínimo que é tolo.

Se deus Apolo souber que o nega, Dar-lhe-á um grande castigo.

CAPÍTULO II - ESCREVER É TÉCNICA

Eu, meu amigo, sou um aedo. O que eu sou mesmo?! Um Aedo.

Correto! Você sabe por que sou um aedo? Por eu mesmo compor

Os poemas que declamo e ao declamá-lo tocar a lira sem medo.

Jamais o Apolo e as suas musas prestaram-me tal literário favor.

Aprendi escrever poemas por achar lindo e ser um ato muito bom.

Toca a alma dos ouvintes e encanta-os de um forma bem especial.

Vi que, entre os versos, palavras finais findavam com mesmo som.

Percebi que os vocábulos utilizados estavam fora do sentido real.

Isso fazia o texto cativar meu ser. Pra aumentar a consubstanciação,

O poeta ainda tocava um instrumento musical (cítara, aulos ou lira).

Depois eu venho saber que esses artistas são aedos por definição.

Eu fui me aproximando dos aedos e fazendo uma sólida amizade.

Ensinaram-me fazer poemas e músicas. O saber é que me inspira,

Não Apolo e musas, ir ao gênero lírico sempre que tenho vontade.

CAPÍTULO III – O DOM DE APOLO

Aedo, andar é técnica? Você conta os passos para ir a algum lugar?

Você dá ordens mentais para suas pernas para elas locomoverem?

Nossos pulmões recusam receber porque está poluído algum ar?

Assim são os belos poemas. Vêm e saem de nós quando querem.

Excelentes poetas sentem a chegada e nascimento de um poema.

Esse fenômeno chama inspiração. Parece um encantamento, magia.

Apolo e as musas fazem poesia. Versejar pra eles não é problema.

Ao poeta cabe materializar o texto lírico. Depois, receber honraria.

Para escrever um texto, o poeta obedece a um sinal. É a inspiração.

Poesia e inspiração... o primeiro é do Apolo; o segundo aos mortais.

Tendo a constante visita do deus Apolo, comum não podemos ser.

Somos diferentes dos humanos. Em relação a eles estamos acima.

Parece que nós somos quase imortais! Isso é incrível! Sensacional!

Tendo do Apolo o dom de escrever, cada poema é uma obra prima.

CAPÍTULO IV - CABEÇA DURA

Aedo, você é tremendo cabeça dura, além de bancar ser ignorante.

Mesmo lhe contando toda verdade, prefere aderir sua imaginação.

Falarei pela última vez e chega! não levarei mais essa prosa avante.

Desentupa os ouvidos e põe sua mente para prestar muita atenção.

Versejar é um dom dado pelo Apolo. Você é portador desse dom.

Poesia é a criação do poema pelo Apolo em nosso campo mental.

O poeta sentindo esta criação o chama de inspiração. É muito bom!

Uma vez no imaginário, precisa de alguém para torná-lo material.

É aí que entramos. Materializamos o poema e o propagamos por aí,

em todos os lugares. Nós saímos com animação pelo mundo afora,

Além de uma felicidade incalculável em recitar os poemas aqui, ali...

Não vou desenhar pra você pois não sei. Meu mundo é a literatura.

Jogue de uma vez a ideia de que Apolo não é deus da poesia fora.

Se não, aedo, o seu viver se transformará numa grande desventura.

CAPÍTULO V - FALAZ

Saiamos da praça e vamos pra minha casa continuar a nossa prosa.

A gente almoça, ouvi algumas músicas e ignoremos o deus Apolo.

Convite aceito. O amigo censura de novo o Aedo pela fala danosa.

Desculpa-me de novo. Saiu sem querer. Eu ainda não me controlo.

Os dois amigos iam virtuosos para o local por ambos desejado.

Uma terceira pessoa fica ainda na praça ruminando o que ouviu.

Quer dizer que Aedo e o amigo negam Apolo, um deus venerado,

amado por nós, gregos. Negam o deus de quem o dom adquiriu.

Se Apolo souber ficará furioso. Por que lhe contarei o tal segredo?

Primeiro: o deus das artes está sendo pelos dois amigos profanado.

Segundo: quiçá Apolo me recompense e eu fique no lugar do aedo.

Para isso acontecer, Apolo terá que ser comigo bastante generoso.

Eu não sei fazer poema e nem tocar instrumento. Ao ser laureado

Por Apolo, eu passarei a ter esses dons o que será muito gostoso.

CAPÍTULO VI - DELAÇÃO

Apolo, perdoa-me ter vindo à sua morada, mas o assunto é sério.

Antes de me deixar irado, toque a lira e declame um poema seu.

Não posso. Sou um rapsodo. Se eu fizer isso será um impropério.

Não toco e nem sei compor. Declamo poema que não seja meu.

Um rapsodo .... você jamais poderia pisar aqui, no Monte Parnaso.

É pra vir cá poetas que precisam de auxílio das musas ou de mim!

Você não faz arte, Só a propaga. Qual é o motivo do seu descaso?

Apolo, entenda! Não o desrespeito; mas conheço gente que sim.

Eu escutei, sem querer, numa praça pública um aedo e amigo dele

Negando-o a criação de poemas, por ter o senhor outras funções.

Não estou mentindo, Apolo. Eu ouvi bem esse sacrilégio daquele!

O senhor precisava saber! Daí eu vir aqui não é sim uma afronta.

Contando-me isso espera o quê ? Obter algumas compensações?

Sim. Ter o dom de escrever poemas e tocar lira, o rapsodo conta

CAPÍTULO VII - DELATOR CASTIGADO

Fiel rapsodo , sua delação dar-lhe-á um prêmio que é muito bom.

Não se aproxime da Artêmis, minha irmã gêmea, após a premiação.

Findada a divina ironia, rapsodo é transformado numa cobra Piton.

Tenha em mente: se o vir assim, Artêmis o matará sem perdão.

Suma da minha frente! Não volte mais! Viu o que lhe aconteceu!

Era o fim da sesta quando deus Apolo apareceu na casa do Aedo.

Deus Apolo! Que honra! O que traz o senhor aqui no recinto meu?

Uma grave heresia. O amigo do aedo demonstra um enorme medo.

Aedo, você diz que escreve poemas e toca lira sem a minha graça.

Você desmerece minha dádiva, da deusa Mnemósine e das musas.

E seu amigo, Aedo? O mesmo sacrilégio na cabeça dele trespassa?

Apolo, eu não compactuo desse raciocínio maléfico do meu amigo.

Adverti-o várias vezes dessa crença inverossímil. Só obtive recusas.

Falei para ele do peso disso e que pensar assim o poria em perigo.

CAPÍTULO VIII – O POETA E O SEU OFÍCIO

Deu um bom conselho ao aedo. Pena que o seu esforço foi em vão.

Pode ir embora, rapaz, afinal não temos mais nada que conversar.

Aedo! Tenho uma pergunta lhe fazer. Responda-me com exatidão.

Como cria um poema, se crê que não lhe dei o dom de poetizar?

Quando vou fazer um poema, do nada vem uma ideia, um assunto.

O tema vai se desenvolvendo dentro de mim com vontade de sair.

Antes de sair, naturalmente ganha rimas e versos num só conjunto.

Uma vez corporizado, o texto necessita de leitor para dele usufruir.

Pouquíssimos sabem ler. Levar o poema a todos é a minha função.

Decoro o texto que fiz e o declamo publicamente, aos borbotões

Recebo pelo meu labor e tenho elogios por cumprir minha missão.

Meus poemas surgem assim. Pego um tema, as rimas, do nada,

No ar, como se tivesse inspirando-os certos aos meus pulmões,

Só que vão para minha mente. Eis a minha concepção formada.

CAPÍTULO IX – PUNIÇÃO DO AEDO

Seu amigo lhe explicou bem a origem do poema. Não vou repetir.

Você, aedo, diz que sente vontade. Está utilizando palavra errada.

Não é vontade. É necessidade em compor. Põe a cabeça pra refletir.

Quando você não compõe, afirmo que vem uma ansiedade danada.

A necessidade é o toque das musas ao escolhido pra obter o texto.

O sim à necessidade é o sim ao chamado. É ser nosso destinatário.

Versejar é torna-se o meu porta-voz. É a humanidade que assesto.

Os mortais assim se convertem a nós e você fica com o honorário.

Poema e música são gêmeos fraternos estão sob meus cuidados.

Os aedos não lhe ensinariam tocar, versar, sem minha aquiescência.

Por não crer em mim e nas musas, seus dons estão sendo cassados.

O étimo do termo música é: MUS (redução/musa) +( ICA /caminho)

Sem acesso que leva a musa, sua lira ficará comigo, por coerência.

Para ter o seu ganha-pão não conte mais comigo. Se vire sozinho!

CAPÍTULO X – UM SER BANAL

A deusa Mnemosine com gosto apagará os poemas de sua mente.

Ela é mãe das musas e deusa da memória. Você será dispensável.

Proíbo-o de vir ao Parnaso. Rogar meu nome de agora pra frente.

Com arte não trabalhará mais. A minha decisão será irrevogável.

Apolo, imploro-lhe! Deixa-me continuar a ser um aedo. A literatura

É minha vida. Não sei fazer nada. Sei compor poemas e tocar lira.

O senhor me tirou os dois. Que será de mim? A vida será tão dura.

Hades, deus do inferno, deixa a porta aberta, mesmo prum traíra.

Aedo, põe uma coisa na cabeça: nenhum deus deve ser afrontado.

Você não tem poder e é mortal. Nós temos poderes e a eternidade.

Colha o que plantou. Antes de fazer asneira deveria ter pensado.

Perco um importantíssimo aedo. Eu não tenho outra alternativa.

Observarei seu amigo. Quem sabe ele o suprirá na qualidade?!

Já desperdicei o tempo com você. Viva banalmente mortal! Viva!

CAPÍTULO XI - FRUSTRAÇÃO MUSICAL

Apolo ficou com minha lira. Tenho minhas economias. Não faz mal.

Comprarei outra melhor que deixará a que foi tirada bem simplória.

Farei um poema sem a permissão dele. Azar daquele deus boçal!

Depois eu o declamarei como sempre faço. Será a minha vitória.

Comprei a harpa. Muito linda. Foi o começo da minha frustração.

Não tirei uma nota se quer. Meus dedos ficaram inflexíveis, juro!

Tentei tocar inúmeras vezes meu novo instrumento. Foi em vão.

Eu não vou ficar com a inútil lira. Não terei prejuízo, isto asseguro!

Voltei à loja musical para devolver a lira e ter de volta meu dinheiro.

Aedo, diversifica! Leva um aulo visto que ambos não são parecidos.

Aulo é um instrumento de sopro. Talvez a praga é só pro primeiro.

Você tem razão. Aulo é uma flauta, a lira é uma pequena harpa.

Proibiu-me de tocar lira... esses deuses são cruéis e enxeridos.

Levarei o aulo. Talvez entre mim e Apolo não terá troca de farpa.

CAPÍTULO XII - APOÉTICO

Aedo não conseguiu tocar o aulo. Problema com a embocadura.

O som não saía de jeito nenhum. O castigo do Apolo fora eficaz.

Na música ajunto fracasso. Na poesia terei a mesma desventura?

Pelo sim, pelo não, eu vou por pra funcionar minha mente tenaz.

Nenhum tema surge. As rimas, a terrível maldição do Apolo comeu.

Tento lembrar os poemas que eu fizera e recitava. Eles não me vêm.

Sem minha vontade virou lapso. O mundo lírico de mim escafedeu.

Não sou mais um aedo e nem tão pouco ser um rapsodo também.

Não decoro mais poema meus, nem dos outros. Que Complicação!

Como ganharei dinheiro? Trabalho braçal? Escrever textos formais?

Não sei. Que chato! Idiota que sou ao meu amigo não dei atenção.

Iniciarei a vida do zero. Será que Apolo reporá meus dons um dia?

Se partir de mim, não sei o que fazer. Só os deuses, ninguém mais.

Vou visitar meu amigo, quem sabe tem um conselho de boa valia?!

CAPÍTULO XIII – SEDUÇÃO PARA ATENA

Durante o jantar dos deuses, Apolo expõe o desrespeito do aedo.

Zeus se zanga com o relato. Quer, que Tânatos visite o profanador?

Deixe o deus da morte em paz. Esse mortal implorará em segredo

que as parcas cortem seu fio da vida e que Hades, seja seu senhor.

O infeliz achava que fazia poemas não pela dádiva, mas por técnica.

O herético fechou a boca e eu lhe tirei todos os dons com prazer.

Sem sustento, perderá a vida. Darei ao céu uma festa pirotécnica.

Servirá de exemplo. Nenhum mortal ousará a um de nós ofender.

Técnica pra fazer poema existe? Fica muito pensativa deusa Atena.

Se houver técnica em vez de inspiração, a poesia será minha alçada.

Aí a poesia não será dom, mas um conhecimento que se armazena.

O poeta não será passivo mas dono de direito do texto que produz.

Qualquer um será poeta basta ter sua cara no estudo lírico enfiada.

Há mesmo metodologia pra fazer poemas?... Essa ideia me seduz.

CAPÍTULO XIV – MAIS UM CONSELHO DE BOA VALIA

Meu amigo, preciso conversar com você. Eu não sou mais um aedo.

O Apolo cassou todos os meus dons. Fui expulso do gênero lírico.

Pra mim você será sempre aedo. Apesar do seu poético degredo.

Não vou virar as costas pra você. Também não usarei tom satírico.

Ser desafeto de um deus é demais oneroso a um simples mortal.

às vezes é pago com própria vida. Terá que ter um deus intercessor.

Pra continuar ser gente, não morrer ou ter uma forma não natural.

O triste, amigo, é que não sei qual deus poderá agir em meu favor.

Aedo, o deus mediador pode convencer Apolo a retirar seu castigo;

Ou ambos chegarão um acordo o que pra você poderá ser melhor;

Ou então diminuir sua pena e assim livrar-lhe bem cedo do perigo.

Sem paráclito no Olimpo, aedo, sua vida será um terrível flagelo.

Quem poderia ajudá-lo? Artêmis irmã Apolo? Zeus, o deus maior?

Tem que ter um outro deus nesse imbróglio. É o que lhe acautelo.

CAPÍTULO XV – É POSSÍVEL OU NÃO?

Eu também o considero um grande aedo. Atena, a senhora aqui?

Seu caso parou no Olimpo. Os deuses não gostaram da sua atitude.

Apolo ao alegar que você dizia ter uma técnica para poesia percebi

Que poderia ter lógica a sua fala. Atena, eu agradeço sua solicitude.

Humildemente eu lhe digo que a senhora, como eu, está enganada.

O que achei que era técnica, eram de fato dons que Apolo me deu.

Foi só ele os tirar que passei a não fazer poemas e não tocar nada!

Tentei tocar, fazer poemas sem autorização dele. O que aconteceu?

A minha mente continuou em branco. Os instrumentos silenciosos.

Sem as musas e a inspiração sou um zero à esquerda. É a realidade.

Xô, Aedo! Atena é deusa da sabedoria. Seus saberes são frutuosos.

Se ela constata coerência na sua fala é porque a lógica é plausível.

Você é sensato, mas seu amigo aedo é pueril ou tem insanidade.

Amigo do aedo, recite poemas pra ver se a técnica neles é crível.

CAPÍTULO XVI – AS RIMAS

Os poemas que o seu amigo recitou, aedo, têm traços habituais.

Todos, Artêmis, foram feitos pelo aedo. Puxa! Não lembro deles.

Mortais, vocês são capazes de enxergar nos poemas marcas usuais.

Amigo do aedo, recite de novo os poemas. Fiquemos atentos neles.

As palavras no fim dos versos têm sons com mesmas terminações.

Por possuírem os sons idênticos recebem o nome de rima perfeita.

Além dessa, é fácil ver que as rimas possuem outras classificações.

Rima de palavras com mesma classe gramatical é pobre. Outra feita

Com palavras proparoxítonas é de esdrúxula chamada. É masculina

Rima de palavras oxítonas e com palavras paroxítonas, esqueci não!

Meu amigo, sabe nome dela? Sei sim, é chamada de rima feminina.

A rima vinda no final de cada verso chama-se externa. É rima rara,

Rima de palavras cujo uso é pouco comum. Exemplo: tisne e cisne.

Achamos uma técnica aos poemas. Aedo, você estava certo, cara!

CAPÍTULO XVII – AS ESTROFES

Os textos feitos com rimas são artes, os sem rimas apenas prosas.

Ao fazer um bom poema tem que selecionar as rimas empregadas.

As rimas ricas têm classes gramaticais diferentes. Rimas preciosas

são postiças: vê-los e pelos. Há ambas e foram por nós olvidadas.

Um poemas com rimas pobres ou sem terão duvidosa qualidade.

A linha dum poema é um verso. Aparecerá em grupos sem dilema,

terá o nome de estrofe. Sua classificação é de verso em quantidade.

Estrofe de um verso é monóstico; dois é dístico. Mantendo o tema...

Uma estrofe de três versos é terceto; já com quatro é um quarteto.

Com cinco versos é uma quintilha; com seis a estrofe é a sextilha;

Uma estrofe de sete versos é uma sétima e com oito não é octeto,

Nem oitilha e sim oitava; uma estrofe de nove versos é uma nona;

Estrofe de dez versos é uma décima. Gente, a minha mente fervilha!

Artêmis, uma pausa. É dado demais. Se não a minha cabeça detona.

CAPÍTULO XVIII – METRIFICAÇÃO

Deve ter notado, Aedo, que o texto foi dito de maneira diferente.

É o que se chama de declamação. Seu amigo o fez por que quis?

Não. No verso as ordens das sílabas tônicas e átonas dirão a gente

Que esse texto tem ritmo próprio para ser falado. Por essa motriz

O poema declamado tem a companhia de um instrumento musical.

Além das posições das sílabas, cabe fazer uma importante ressalva.

O verso possui uma medida, o metro. Medi-lo não é nada anormal.

Faça a divisão silábicas das palavras no verso. Não será lida malva

Se ficar atento a três regras básicas na hora de fazer a medição.

Conte as sílabas até última silaba forte da última palavra do verso.

Se a sílaba findar em vogal átona ou a letra h, a sílaba de sucessão

Se unirá com a sílaba anterior e contada com uma sílaba somente

A esse caso dá-se o nome de elisão. Outro saber poético imerso:

Os dígrafos não separam, ficam na mesma sílaba, que é coerente.

CAPÍTULO XIX – CLASSIFICAÇÃO DOS VERSOS

Ao medir um verso, vamos perceber que o metro é diversificado.

Conforme quantidade das sílabas poéticas o verso se classifica em:

O verso que tem uma sílaba poética é de monossílabo chamado;

Com duas sílabas poéticas é dissílabo; trissílabo é o verso que tem

Três silabas poéticas, se tiver quatro sílabas será tetrassílabo;

Com cinco é um pentassílabo ou então uma redondilha menor

(O segundo nome é mais usado); com seis sílabas é hexassílabo;

Verso com sete sílabas é um heptassílabo ou redondilha maior.

Redondilha maior e o termo mais usado em relação ao primeiro;

Verso de oito é um octossílabo, nove é eneassílabo. Não acabou!

Verso de dez sílabas, decassílabo; hendecassílabo, o metro certeiro

É de onze sílabas. Dodecassílabo é o verso com doze. Pode então

Todos os versos do poema seguirem o primeiro verso que iniciou,

Com mesma quantia de sílabas, o verso é isométrico por definição.

CAPÍTULO XX – DISPOSIÇÃO DAS RIMAS NO POEMA

Heterométrico, verso cuja quantia de sílabas é distintas dos demais.

Verso branco é o verso que não tem uma rima sequer pra fazer chá.

Verso livre é o verso onde as normas ditas ele não cumprirá jamais.

Pode ocorrer poucas particularidades, por enquanto deixarei pra lá,

Na contagem das sílabas poéticas. Caso apareçam, irei explicar.

A técnica de contar as sílabas dos versos é nomeada de escansão.

Pode-se fazer um raio xis do poema que por ventura venha recitar.

Novamente vai precisar de que prestemos ao texto muita atenção.

Paa rimas iguais letras iguais. No esquema abab, leia-se desse jeito:

Primeiro verso rima com o terceiro, o segundo verso com o quarto.

Versos pares rimam com pares e os impares com impares. Perfeito!

Por essa disposição no poema a rima receberá nome de alternada.

Há mais três disposições de rimas num poema que agora reparto.

No esquema aabb, a rima virá em sequência, a rima é emparelhada.

CAPÍTULO XXI – A CLASSIFICAÇÃO DOS POEMAS

Outro esquema de rima num poema é abba, chamada de oposta.

Se as rimas estão no final de um verso e inicio do verso posterior

A rima é encadeada. A rima mista é aquela que no poema gosta

De não seguir padrão algum e crê que o verso está a seu dispor.

Um poema é classificado por assunto, ou uma estrutura escolhida.

A trova é um poema de só uma estrofe, de quatro versos apenas.

Todos serão redondilhos maiores. se acaso der nele uma mexida

na estrutura, o poema não será trova mais. Podem ser pequenas

Ou grandes mexidas. A estrutura é fixa. Quem a mandou escolher?

Epitalâmio é um poema cujo tema é a celebração de casamento...

Hino é um poema de exaltação à pátria, um deus ou um outro ser.

Um hino à pátria é hino cívico, um hino o deus é um hino religioso,

Hino que exalta uma pessoa, ou da natureza qualquer elemento,

É chamado de profano. Chega, porque o assunto é bem volumoso!

CAPÍTULO XXII – PARTAMOS PARA A PRÁTICA

Aedo, as regras e as técnicas para você fazer os poemas estão aí.

Você está agora com a faca e o queijo na mão. Sirva-se à vontade.

Volto ao Olimpo e daqui dois dias retorno pra ver o que consegui.

Você com o poema já pronto, provará que estamos com a verdade.

Apolo terá que admitir que com a técnica também se faz poema;

Não somente com suas musas, e ele no comando, e a inspiração.

Se no meu retorno aqui não tiver o texto lírico, teremos problema.

Apolo não o quer vivo. Tenta convencer os deuses dele a intenção.

A sua vida está em jogo, aedo. Talvez seja a única chance que terá

De fazer com que Apolo tire de você o flagelo que ele lhe impôs.

Este é o plano pra salvá-lo. O êxito dele do seu sucesso dependerá.

Seu amigo quis ficar consigo para ajudá-lo nesta nova empreitada.

Crie um dicionário de rimas e figuras de estilo. Ele também propôs

Tocar aulo, pra que sua tarefa seja leve e rapidamente executada.

CAPÍTULO XXIII – FAZENDO UM PAPEL FEIO

Artêmis, a deusa da caça,

Irmã gêmea do deus Apolo,

Foi vista em plena praça

Tomando golo atrás de golo.

Ela saiu da praça e foi pra rua.

Com a bebida lhe subindo a cabeça,

Ficou pelada, completamente nua.

Não sei como, Apolo apareceu bem depressa.

Cobriu-a com uma roupa que trouxe.

Abraçou-a e falou no ouvido dela.

Fazer um papel feio jamais pensei que fosse.

Vamos, irmã. O Olimpo nos espera.

Lá analisaremos melhor esta querela.

Vamos, Artêmis. Sua presença aqui, já era.

AEDO

CAPÍTULO XXIV – VASCULHANDO O LIXO

Aedo, seja sincero. O que você achou do poema feito? Um lixo!

Atena, fiz o máximo que pude. Sem a inspiração é deprimente.

Aedo, pensei que iria ouvir um texto lírico feito no capricho;

Pensei que estava diante de um poeta sagaz e independente.

Vamos ver, aedo, os erros que você lamentavelmente criou.

Você usou versos heterométricos em todas as estrofes, ou seja,

Cada verso tem quantidade de silabas poéticas muito desiguais;

Uso de palavra chula (golo), não é recomendável quando verseja.

Uso de rimas imperfeitas numa composição lírica é pura Mancada.

As rimas no poema devem ser perfeitas, terminarem o mesmo som.

Cabeça e depressa. Na palavra cabeça a vogal E a dicção é fechada,

Enquanto que na palavra DEPRESSA a vogal é aberta. Entendeu?!

Na rima das palavras trouxe e fosse o que não aconteceu de bom?

O som da letra u da palavra trouxe não aparece, a rima o comeu.

CAPÍTULO XXV- OS ÚLTIMOS LIXOS

Os versos antepenúltimo e último têm problemas na pontuação.

Depois das palavras irmã e Artêmis você colocou um ponto final

Nos versos ditos, irmã e Artêmis são vocativos. Mais explicação...

Vocativo é termo acessório da oração. Indica chamamento. Ideal

é usar virgula ou ponto de exclamação, como diz a norma culta.

Ficaram sem respostas: o que Artêmis estava fazendo na terra?

O que ela bebeu? Por que a atitude de Artêmis não ficou oculta?

Quem contou a Apolo? ELE levou roupa dele ou da irmã? Erra

ainda, aedo, deixando o texto com as cinco lacunas ainda vazias.

Coesão e coerência no seu poema resolveram tirar uma licença.

Sem falar do tema que insulta os deuses com inéditas zombarias.

Estou do seu lado, se não o lançaria no rio Cócito, rio do lamento;

um dos cinco rios do inferno. A terra ficaria sem a sua presença.

Se não me ajudasse, Atena, eu mesmo ia a esse rio de sofrimento!

CAPÍTULO XXVI – SEM INSPIRAÇÃO

Até agora analisei o seu poema. E quanto ao processo de criação?

Eu achei um enorme tédio fazer o poema. Fiquei até sem paciência!

Toda hora usar os dicionários de figuras de estilo e rimas. Dá não!

Depois ver a palavra ideal usada no texto pra manter sua essência.

Antes fazia os poemas despreocupado. A criação era automática.

Agora não. Fiz o poema por ser obrigado e sem animação alguma.

Dois dias gastei para fazê-lo e o resultado foi uma poesia errática.

Se me pedirem para fazer poema direi: saia de minha frente, suma!

Atena, ele ficou tão furioso que me pediu para não fazer barulho.

Que eu pegasse o aulo e o enfiasse... poupa-me, amigo do aedo!

Perdoa-me pela má conduta, Artêmis. Isso não me dá orgulho.

Aedo, põe uma coisa na sua cabeça dura: o deus Apolo o rechaçou.

Ou ande com as suas pernas ou ficará para sempre nesse degredo.

Tenha mais atitude! A época de você receber inspiração, terminou.

CAPÍTULO XXVII – A EX DO DEUS APOLO

Afrodite, preciso de sua ajuda. Sabe do caso do Apolo com o aedo?

Sei, e quem não sabe? Aqui no Olimpo é o assunto do momento.

Afrodite, você está do lado do Apolo ou do humano sem credo?

Com o deus das artes. O que aedo fez a Apolo não tem cabimento.

.

Atena, eu e Apolo tivemos um caso e até um filho, o Himeneu.

Se eu lhe ajudar, terei com Apolo uma dor de cabeça tremenda.

se de fato existir técnicas para fazer poema, o mérito será meu.

É uma questão de direito, Afrodite, espero que você me entenda.

A técnica existe, já a usamos. Falta algo! A solução está bem perto.

Aedo ao fazer o poema sem inspiração teve tédio, raiva, desprazer.

O revés do que ele sentiu é o amor. O amor o porá no rumo certo.

Não me indisporei com o pai do meu filho, o deus do casamento.

Que pena, Afrodite, Se não vai me ajudar, o que eu posso fazer?

um outro jeito do aedo na hora de compor sentir contentamento!

CAPÍTULO XXVIII - EROS, O ALIADO

Atena, posso ajudá-la. Venha imediatamente até o meu aposento.

Eros, sua mãe me negou ajuda. Por acaso você vai se opor a ela?

Está ou não precisando de ajuda? Posso ajudá-la nesse momento.

O seu tutelado fez, ao meu pedido, uma poesia à Psiquê, tão bela,

Que a minha atual esposa, na época namorada, ficou embevecida,

Caiu lânguida em meus braços e me intimou amá-la eternamente.

Pagarei agora o favor que aedo me fez e assim revigorá-lo na lida.

Eu a ajudo ou ficará só com o não da minha mãe definitivamente?

Você sabe que mamãe molestou e lesou muito a minha amada.

Se não fosse Zeus indo a meu favor, hoje não estaria com Psiquê.

Venha ao meu aposento e lhe mostrarei como resolver a parada.

Entrando no aposento de Eros, Atena ganha uma belíssima aljava

Com muitas flechas. Terão que ser atiradas no aedo só por você.

Na criação do poema, na busca nos dicionários em que consultava,

CAPÍTULO XXIX - PRAZER LITERÁRIO

Na revisão feita ao texto, na leitura dele, em todos os passos enfim.

Desse modo amará os estudos líricos, escolherá adequados temas.

Com prazer no labor poético, se demorar compor, não achará ruim.

Depois da labuta, perceberá sem sentir, a feitura de belos poemas.

A prática e os saberes apossados dar-lhe-ão ágeis matérias-primas.

Aedo optará rápido pelas estruturas e assuntos a serem abordados

Fará ligeiro a metrificação dos versos e a seleção das ideais rimas.

Depois de tudo pronto, amará ouvir seus belos textos declamados,

Independentemente de quem seja, um rapsodo ou até ele próprio.

Ao ter contato com o texto do aedo, dar-se-á um deslumbramento

Que jamais alguém na vida dirá do texto dele qualquer opróbrio.

Com amor e conhecimento no que faz, não carecerá mais do Apolo

No campo lírico. Aedo livre, poderá até fazer um enfrentamento

da inspiração do Apolo e a técnica e conhecimento, que é seu solo.

CAPÍTULO XXX – FALTAVA AMOR

Vamos, aedo, mãos à obra! O gênero lírico nos convoca a visitá-lo.

Esqueça Apolo! mesmo imortal, pra você o deus das artes morreu.

Ponha sua cabeça para funcionar. O poema não virar em um estalo.

Seu leal amigo não está presente. Estamos aqui somente você e eu.

Isolado para pensar num poema, aedo recebe a primeira flechada.

Pensando sobre uso das rimas, uma nova flecha o atinge em cheio.

Finalizando texto lírico, outra flecha certeira lhe vem em disparada.

Aedo ao recitar o poema feito, mais uma flecha surge sem receio.

Dicionários de rimas e figuras de linguagem com generosidades

Mil foram atualizados. A poesia é novos campos elísios do poeta.

Se não sabe, campos elísios é o éden que fica no inferno de Hades.

Artisticamente falando, ele não é mais o mesmo. Autossuficiente

E vacinado pelas flechas de Eros, aedo ao gênero lírico se completa.

Está provado agora que versejar não é mais algo transcendente.

CAPÍTULO XXXI – SEGREDO NA POESIA

Estou de volta a poesia.

Não por alguma magia,

Mas pela sabedoria

e muito estudo dia a dia.

O lírico (quem diria!)

Possui metodologia

Própria, mas ninguém sabia.

Por que de nós a escondia?

Quem faz essa vilania?

Atena então pressentia

Que o oculto lá existia.

O poema traz essa via.

A técnica de maestria,

Quem ao poeta dessabia.

AEDO

CAPÍTULO XXXI – SONETILHO

Que poema lindo, aedo! Isto sim considero uma obra de arte.

Ainda bem que não desisti e confiei muito na sua capacidade.

Analisarei seu novo poema minunciosamente parte por parte,

Para que você possa perceber nele o que há de literariedade.

O Seu novo poema quanto a estrutura poética dele é um soneto,

porém um soneto especial, que neste momento a você esmerilho.

Quando o soneto apresenta versos redondilhas maiores locupleto

Recebe uma denominação especial. É classificado como sonetilho.

O seu sonetilho é monorrímico, ou seja, com uma rima somente.

Todas as palavras dele que rimam, terminam com mesmo som: IA

No segundo quarteto, no lugar palavra lírico, Apolo acrescente...

Releia a segunda estrofe. Fica claro que deus Apolo tem, só pra ele,

A técnica de poetar. O erro é não compartilhar, o que fazer deveria,

Deixando todos os poetas humanos a mercê exclusivamente dele.

CAPÍTULO XXXII – O CALCANHAR DE AQUILES LITERÁRIO

Na primeira estrofe o sonetilho diz que você volta renovado,

Não utilizando mais o sobrenatural e sim o estudo e a razão.

A terceira estrofe afirma que o Apolo traz com ele guardado

Algum segredo sobre poesia. Era o que dizia minha intuição.

O segundo terceto reafirma a existência de uma técnica, embora

Os poetas a desconheçam e que ela também faz um texto perfeito.

Não usou linguagem chula e nem rebuscada. A simplicidade vigora,

Tornando o poema belo. Tudo isso, aedo, lhe dá ótimo conceito.

O sonetilho é um metapoema, o assunto dele a própria poesia.

O única parte que não tem a metalinguagem é o primeiro verso,

Nele há o anúncio e evidencia seu retorno, pois sua falta se fazia.

Ainda que a razão prime o texto, o motivo em criá-lo foi subjetivo:

O Apolo ter lhe expulsado do gênero lírico. O deus virou perverso,

por esse ato de vilania. Literatura é ficção é não um fato real vivo.

CAPÍTULO XXXIII – O EU LÍRICO

Um texto sobre experiência vivida por alguém talvez seja legal.

Esse texto se for em prosa será uma biografia ou autobiografia.

Agora, se ele for em versos, será apenas um poema confessional.

Um poema terá alto valor se pra ele um meio inexistente se cria.

Aedo, a empatia existe tanto na literatura como também na vida.

Se a realidade é quimérica, a empatia também o é. Deu pra captar?

Pra mim essa empatia literária é o eu lírico, como ficou conhecida.

Criar realidade fictícia como verdade fosse sem ter o que contestar

Isso é que é arte. Está aí a razão dela nos propiciar imenso deleite.

Jamais sobre um texto literário fale o seguinte : o autor quis dizer...

Troque autor pelo eu lírico. Mesmo achando estranho, aedo, aceite.

O porta –voz de um poema será sempre o eu lírico, jamais o autor.

Num texto confessional a ótica do eu lírico e autor tem tudo haver.

No texto não confessional não. O eu lírico até se opõe ao criador.

CAPÍTULO XXXIV – ASPIRAÇÃO DA DEUSA ATENA

Aedo, na sua estória com Apolo chegou a hora dele assumir o erro.

Pretendo desafiar o deus das artes para uma competição poética.

Os juízes dessa disputa serão os deuses do Olimpo. Só com aferro

De sua parte antes do duelo, venceremos essa batalha hermética.

Eu só desafiarei Apolo caso nós tenhamos a convicção de vencê-lo.

A derrota num confronto com um deus tem um ônus aterrorizante.

Basta você, aedo, dizer que está preparado que eu marco o duelo.

Você vencedor, serei também deus da poesia, pois sou postulante.

Você vencendo terá mais que prestigio social. Entrará para história!

A humanidade por séculos saberá de sua existência aqui na terra.

Quem sabe os deuses do olimpo lhe concederão alguma glória?!

A decisão é sua e não minha. O que podia fazer por você, eu fiz.

Aula de música vai demandar ainda mais tempo. Atena encerra.

Sem problema. Enfrentarei Apolo como rapsodo. O que me diz?

CAPÍTULO XXXV – DISPUTA POÉTICA MARCADA

Aedo, o nosso duelo lírico está marcado. Apolo ficou estupefato.

Disse estar triste comigo e que a poesia não era da minha alçada.

Também quis saber o nome do desafiante que lhe seria ingrato.

Disse a Apolo para lembrar da última injustiça por ele praticada.

O deus das artes afirmou que não queria mais saber quem era.

Seja quem for seria derrotado com uma facilidade gigantesca.

O lugar da batalha poética será no Olimpo, como eu propusera.

Não me decepcione, Aedo! Não vá cometer uma gafe dantesca.

Se eu fosse tocar, a sua desconfiança sobre mim seria pertinente,

Porém na poesia, tenho total certeza de que não sairei derrotado.

Quando ocorrerá a disputa? Foi marcada para o mês subsequente.

Um rapsodo num elóquio, um ramo de loureiro sua mão sustenta.

Por ser a árvore que simboliza o Apolo. Pelo que tenho planejado,

Aedo, você levará um ramo de oliveira; pois é que me representa.

CAPÍTULO XXXVI – PREÂMBULO DO DUELO

No dia do embate lírico, já aconteceu o seguinte entrevero...

Atena mentiu. O candidato dela não é um rapsodo e sim aedo.

Ora, Apolo! Você tirou todos os dons dele. Por que o desespero?

Diga-nos a verdade! Do que é que você está realmente com medo?

O meu adepto não toca instrumento algum, logo é um rapsodo.

Mas compõe, segundo fiquei sabendo. Compõe pela inspiração?

Direi de novo. Você tirou os dons dele, Apolo. Chega de engodo!

Deuses do Olimpo, eu ou Apolo? Quem está sendo justo então?

O confronto é de fato saber de qual a iluminação se faz o poema.

Inspiração doada por Apolo ou uma técnica que se possa aprender.

Se o meu defensor é ou foi um aedo, não é esse aqui o problema.

Se Apolo teme , mando embora o ex-aedo e trago outro oponente.

Deixa pra lá! Ao embate! Atena e seu cupincha vão mesmo perder...

Faça Zeus sorteio do tipo do poema para que o duelo seja realizado.

CAPÍTULO XXXVII - O QUE É EPOPÉIA?

Deuses e todos aqui presentes. Pro duelo literário escolho epopeia.

O que é epopeia para que nós melhor possamos julgar o embate?

Sabemos que é poesia, mas que tipo de poesia não façamos ideia.

Apolo, poesia é a sua área, então para todos aqui presentes, relate.

Ao invés de mim, você não quer explicar o que é epopeia, Atena?

Dionísio e os demais deuses querem saber, ou disso não é capaz?!

Sei sim. Duvidar da minha sabedoria, Apolo, que atitude pequena!

Ensinei tudo ao seu desafiante que explicará tudo de modo eficaz.

Epopeia: poema narrativo com feitos heroicos de um personagem.

Esse praticará ações nobres, participará de guerras, e viagens várias.

Numa epopeia tem deuses e seres míticos que nela também agem.

O herói da epopeia é um humano cujos feitos são tão excepcionais,

Que deixarão os deuses de queixo caído. Que forças extraordinárias

Podem fazer um mortal realizar obras parecidas aos deuses iguais?

CAPÍTULO XXXVIII - APOLO É FAVORITAÇO

A força do mortal vem da ajuda de um deus e do desejo de vencer

Gigantesca que esse herói épico possui durante toda a narração.

As caraterísticas quanto à forma são essas que vocês devem saber:

Narrador é onisciente e o texto é contado na terceira pessoa. Então

Fica claro de entender que a linguagem de uma epopeia é objetiva.

Quanto à sua estrutura, a epopeia tem quatro partes geralmente.

Introdução, invocação, narração e epílogo. A exaltação é bem viva.

Esqueci de algo, Apolo, ou posso dizer que cheguei aos finalmente.

Falou tudo certo, seu mortal insolente. Seu talento finda por aqui.

Seus dons pra compor e tocar, tirei-os com a mais plena convicção.

Jurados deuses, ficou dúvida sobre a epopeia? Não pelo que eu vi.

A regra do duelo é simples. Quem tiver mais votos será vencedor.

E se houver empate aqui como ficará resolvida a lírica questão?

O duelo é só formalidade. Apolo é favorito, será mesmo ganhador.

CAPÍTULO XXXIX - RESUMO DA ODE DO AEDO

Aedo narrou uma bela estória de um poeta que fora convocado

Para uma dessas guerras da Grécia com a Pérsia na antiguidade.

O poeta não sabia guerrear porque jamais na vida fora soldado

Sabia sobre o gênero lírico e um texto com toda sua literiaridade.

Vendo que o poeta guerreiro numa batalha não daria para o gasto,

Ares (o deus da guerra) resolveu dar ao poeta uma senhora mão.

Mesmo sabendo lutar, usar armas, o poeta na guerra era casto.

Ares pediu a Atena que auxiliasse o poeta guerreiro desde então.

A cada período de trégua o poeta fazia seus versos para uma ode,

A fim de registrar a bravura, destreza, patriotismo e domínio grego.

Na estória, solitário, ele, o poeta faz coisa que nenhum mortal pode

Como derrotar uma poderosa tropa persa facilmente e sozinho.

Obtendo vitória, ofertava aos deuses o triunfo com todo apego.

Os mesmos felizes e retribuíam com mais vitória ainda o carinho.

CAPÍTULO XL - SINOPSE DA ODE DO OPONENTE DO AEDO

O adversário do aedo contou a estória de um corajoso comandante

Que conseguiu reverter a feitiçaria da Circe, uma deusa feiticeira.

Circe, bonita e sensual, tornava qualquer homem em seu amante.

Após realização sexual, o amante num animal ela o transformaria.

Circe é a deusa da lua nova, do amor carnal, do sonho divinatório.

Ela também é deusa da magia negra, da feitiçaria e da maldição.

Circe seduziu cada soldado da tropa desse comandante meritório.

O comandante não virou um animal, pois Afrodite fez intervenção.

A deusa do amor tinha um caso com o comandante à escondida.

Lotada de ciúme, Afrodite quebra da Circe todo o encantamento.

Os guerreiros voltam à condição humana e ficam felizes da vida.

Uma das poções da Circe, Afrodite deu ao seu comandante

Para usar quando tiver sendo derrotado num enfrentamento.

Assim o militar o fez numa luta com Talos, um cretense gigante,

CAPÍTULO XLI - DEU ZEBRA

Declamado as odes pelos seus compositores em alto e bom som,

Zeus pergunta aos jurados se eles estão preparados pra votação.

Disseram sim e optaram pelo voto secreto. Não seria de bom tom

Ver Apolo ou Atena entristecidos, quiçá furioso, com a apuração.

O deus supremo do Olimpo fez a contagem dos votos e deu zebra.

Achava-se que o poeta optado por Apolo venceria folgadamente.

Deu empate. Atena e o aedo celebram. Um grito o silêncio quebra.

Não pode! Tem que ter um vencedor! Que resultado deprimente!

O vencedor tem que ser eu, deus das artes, entre outros atributos.

Atena é deusa da sabedoria, como pode ela entender de poema?

Aliás, vocês jurados também nada sabem! Oh, Cérebros brutos!

Não pode haver empate! Façamos uma nova composição poética.

Concorda, Atena? Estou satisfeita com empate, mas sem problema.

Pode escolher, Apolo, o tipo do texto, o tema e até sua estética.

CAPÍTULO XLII - ELEGIA.

Como a deusa Atena deu-me o direito de escolher o poema,

Eis o texto escolhido para um novo confronto: será uma elegia.

Antes que um mortal banque o tolo e que sua mente esprema,

Afirmo que o poema escolhido traz como assunto a melancolia.

Se a tristeza for por luto, causada pela por morte de um mortal.

A elegia será classificada como nênia ou epicédio. Simples, não?

Se a tristeza do texto lírico for uma desilusão de cunho pessoal,

A elegia terá nome de endecha ou romancilho como classificação.

Há um terceiro tipo de elegia, mas esse de jeito nenhum quero.

É o epitáfio, um texto poético curtíssimo que na lápide é gravada.

Deixo aos dois concorrentes a escolha. Outra coisa que eu reitero

É que a elegia um outro nome. Ela pode ser chamada de treno.

Há dúvidas no jurado ou Zeus pode dar a batalha como iniciada?

Sem dúvida, Apolo, disse Dionísio. Seu esclarecimento foi pleno.

CAPÍTULO XLIII – OUTRO EMPATE

Por terem ideologia diferentes, não escolheram a mesma elegia.

O aedo optou por um epicédio onde um mortal fica órfão divino.

O concorrente do aedo escolheu um endecha e abordou a agonia

De uma amada cujo amado desapareceu de sua vida, sem destino.

Zeus colheu os votos e o cômputo de novo foi de outro empate.

Atena ficou feliz de novo com resultado. Apolo ficou possesso.

Novamente não souberam julgar, cometeram novo disparate.

Sou deus das artes! Era para sem mim o imortal ter só insucesso!

Mas Apolo, o aedo não o derrotou, isso já não é o suficiente?

Não! Era para o mortal ser derrotado de primeira e de lavada.

Onde já se viu! Vocês sabem que estão fazendo? É deprimente!

Estão igualando um mortal a mim, ou seja, um deus. Daqui a pouco

Os mortais não crerão mais em nós, logo eles não crerão em nada.

E se alguém acreditar num deus será meramente taxado de louco.

CAPÍTULO XLIV - COMPETIÇÃO ENCERRADA

Zeus, Apolo não me venceu. Exijo aquilo o que me é de direito.

Eu, Atena, quero ser reconhecida também como deusa da poesia.

A deusa da sabedoria está alcoolizada para pedir algo desse jeito.

Ninguém venceu ninguém, logo, Atena, seu pedido não tem valia.

Poesia é um segmento das artes, logo continuará sob minha tutela.

Bem, uma vez que cada um questiona seu direito, só tem uma via..

Dirigem à Têmis. Por ser a deusa da justiça, passo esse caso pra ela.

Quanto aos mortais, voltem-nos para terra. Eles não têm mais valia.

Mas Zeus... não tem mas nem mais. A competição chegou ao fim.

Coloco o direito de quem vai ficar com a poesia à deusa da justiça.

Apolo dispensou o seu fiel simplesmente. Atena não agiu assim.

Chamou o aedo antes de enviá-lo à terra e lhe fez agradecimento.

Elogiou-o pela dedicação, talento e a inteligência como premissa.

Jurou protegê-lo de toda perseguição e em qualquer momento.

CAPÍTULO XLV – SILOGISMO DE TÊMIS

Têmis, estamos aqui... já sei! Zeus me expôs de vocês a situação.

Você quer o título de deusa da poesia sem vencer o concurso.

Apolo quer ser declarado vencedor sem ter ganho a competição.

Como pleitear os títulos sem serem vencedores? Não cabe recurso.

Atena, se Apolo lhe atestar tal perícia, você será deusa da poesia.

Apolo, pra ser campeão, Atena tem que admitir que foi derrotada.

Se Apolo vir no poema feito com técnica uma literaridade de valia,

Atena, a designação de deusa da poesia lhe será por mim dada.

Se Atena admitir que você venceu, por mínima vantagem que seja,

Consequentemente o declaro vitorioso. Um exemplo: na inspiração

o poema é feito bem mais rápido. Nela o tempo da poesia sobeja;

Já quem faz poema por técnica, precisa do prazo um pouco maior,

Tem trabalho para escolher palavras, as rimas, fazer a metrificação.

Quem cederá mesmo que seja ínfimo para eu definir o vencedor?

CAPÍTULO XLVI – A VOLTA DO CONCURSO

Eu não vou dividir a cadeira da poesia com a deusa da sabedoria.

Não assumir que fui derrotada. Isso não aconteceu. Houve empate.

Já que nenhum dos dois cedem, voltemos ao concurso de poesia,

até que haja um vencedor. Ele voltará, pra pôr fim nesse disparate.

Será anual e sem repetir os poetas. O modelo atual será mantido.

Havendo vencedor, o concurso para isso será pra sempre extinto

E o título desejado ao deus ganhador será entregue. Entendido?

Pode durar séculos? Atena, não fui eu quem os pus nesse labirinto.

Já tenho o poeta pro concurso do ano que vem. O amigo do aedo.

Eu não escolhi ainda, mas escolherei um excelente também, Apolo.

Adeus, se não tiverem outro assunto sério pra eu meter meu dedo.

Até hoje, século vinte e um, esse duelo lírico, no Olimpo, acontece.

Empates seguidos nos resultados não põem fim nesse poético rolo.

Meu tino me diz que ele jamais será desenrolado. É o que parece!

CAPÍTULO XLVII – QUE POETA SOU EU? -

A lenda nos mostrou muitíssimo bem sobre o mundo da poesia

que existem dois tipos de poetas: os que acreditam na inspiração

E um outro que tem a consciência de que a técnica e a sabedoria

Podem lhe dar modelo e subsídios pra fazer uma bela composição.

Aqueles que creiam na inspiração só escrevem poema se ele o vier.

A inspiração já traz o poema pronto, raramente o texto terá reparo.

Poetas adeptos da técnica, da sabedoria, têm muito serviço a fazer:

Compor poema é ofício artístico, árduo, racional e de encanto raro.

Aclarar um tema, seletar rimas, apurar palavras, na lírica disposição.

Ser cônscio no emprego de recursos estilísticos e ser bem criativo.

Um texto produzido é fruto do imaginário, pois literatura é ficção.

O poema pra nascer pode ser fomentado por fato histórico ou real

Jamais ser um fato vivido pelo poeta. Isso não seria nada produtivo.

Eu, O Filho da Poetisa, assumo que versejar é uma criação laboral.

O FILHO DA POETISA

Filho da Poetisa
Enviado por Filho da Poetisa em 03/03/2023
Código do texto: T7732087
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