METAMORFOSE

Algo dentro de mim manifesta

que meu sôfrego dorso se inclina;

um clarão prateado ilumina 

longos uivos na escura floresta.

Sob a mira da incômoda besta¹

logo envolvo-me em pele lupina. 

O feitiço lunar me alucina,  

minha própria razão me molesta. 

Ando nessa evasão solitária  

em passadas e ações sorrateiras,  

sempre atento por noites inteiras.

Minha metamorfose lendária, 

contraria os meus laicos costumes 

e motiva os vindouros queixumes.

© Ismael Marck em Arrebol Acromático  —  publicação independente (2020).

• Nova versão, 2022 • Soneto eneassílabo formado por três anapestos (ou seja, tônicas na 3ª, 6ª e 9ª sílaba)

¹ B|é|sta: O mesmo que balestra; arma antiga, composta por um arco e por um cabo muito tenso, com que se arremessavam setas e pelouros.