O último anjo a ver o céu e cair no abismo

Mantenho íntimo o meu desalento

ao perceber em mim a tez espúria

de um pensar ascoroso e purulento

viu, queimo-me nas chamas desta fúria

Ninguém pode ver que estou nu ao relento

Só eu escuto os gemidos desta lamúria

Admito, eis meu signo e talento

Não revelar as marcas da penúria

Não luto mais contra isso que vem e vai

Em mim mesmo a esperança se esvai

Cansado estou de qualquer eufemismo

Dei a última facada, aquela que trai

Dei o último beijo, aquele que distrai

O último anjo a ver o céu e cair no abismo