DESENCARNE

Foi no horror dessa noite tão funérea

Que eu descobri, maior talvez que Vinci,

Com a força visualística do lince,

A falta de unidade na matéria!

Augusto dos Anjos

Na noite tenebrosa e mais que fria,

Meu peito na profunda escuridão,

A dor que pelo músculo atrofia,

Vestindo vai a temível podridão.

A vida se recolhe, já não pulsa

Na rígida matéria em combustão

E pende na alma tão tensa, convulsa...

Intervalo de tempo, um sim ou um não.

Com horror diante da urna funerária

Vertendo no caos por onde resvala,

Na angústia se comprime a coronária

Buscando em vão tirar o pé da vala.

E ao som da derradeira e fúnebre ária,

Se deixa vazar no vazio e se cala.

Alessa B
Enviado por Alessa B em 25/06/2023
Código do texto: T7821955
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