Azeitona, bala e gaiola

 

Durmamos bem,
hoje e amanhã também,

Protege-nos mais uma vez,

Senhor, amém. 

 

Uma azeitona em minha boca: sinto o sabor,
mas o caroço há que ser devidamente colocado
no prato onde um alvoroço faz-se requentado
cruelmente por um peito desmedidamente delator:

 

abala (em outra boca), causa-me terror
ficar por tanto tempo acordado,
envolto em intempéries, revoltado,
às voltas com esse angustiante torpor. 

 

Eu peso na balança a minha sanidade
e peço com esperança que esteja aberta
no fim de alguma reta a minha portinhola.

 

Ser livre, até que ponto de verdade
a pena vale mais que a conta quase certa
de conseguir voar por dentro da gaiola?