Ampulheta

A areia ali se move lentamente

Neste artefato frágil e incolor...

E em sua ação mecânica e silente,

Vai alcançando o bojo inferior.

Os grãos de areia nunca irão se opor

À lei da gravidade contundente...

Transcorrem, exercendo seu labor,

Cumprindo sua sina, tão somente.

Naquele artigo que hoje adorna a sala

A areia nunca volta, nunca entala

E vai, por ele, sendo consumida.

O tempo, em categórica faceta,

Trabalha assim, conforme essa ampulheta,

Levando, pouco a pouco, nossa vida.

Obs: soneto vencedor do Concurso Nacional de Poesia Oracy Dorneles – 2022. Houve 232 obras inscritas.