Miserere

Tive um sonho. Eu caminhava a passo lento

Por paisagem tão estranha quanto ignara

Quando meu caminho e meu olhar cortara

Um cadáver insepulto e lazarento.

Estanquei e o estudei por um momento:

Quase toda sua pele se despregara

E o rosto macilento, ossudo, congelara

Num mudo grito dum remoto tormento.

Ajoelhei-me – e, então, com carinho fraterno,

Acariciei cada úlcera que o corroía,

Aplicando em sua óssea testa um beijo terno –

Pois meu cérebro, no sonho, percebia

Que era aquele o cadáver sempiterno

Daquele homem que já fora eu um dia…

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 06/05/2024
Código do texto: T8057609
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