FLOR LILÁS DE MARÇO
A tarde tem um tom de pessegueiro
e minha alma é uma flor lilás de março.
O céu doente soluça um aguaceiro,
manto de trevas com que me disfarço.
Embora em pé, tenho os ombros rudes.
A boca amarga, as minhas mãos vazias.
A tarde chora, seu pranto me ilude.
E se faz noite dentro do meu dia.
Do triste eco das janelas
bocas famintas sonham panelas
e no meu silêncio me ouço soluçar.
Sou corpo de saudade flutuando nos espaços.
Exilada de você, peregrina dos teus braços.
No chão da vida, um poço a se afundar.