Sentidos desertos

Para a Inês de Sá

Um sem-fim de rochas com um cacto de doze andares;

cada andar, crucifixo de quatro apartamentos;

um nem sabe do outro (arame-farpado) os tormentos:

não se vêem, nada sabem - como vivendo em bares.

Um areal raso e desesperança chamando "avenida";

através, se dispersam – terno e gravata – as iguanas;

trabalhar em pedras fechadas, sanidades insanas,

e, achando água, deságuam a infertilidade espremida...

Um chão que onde se pisa racha...

Noite, quarenta graus. O dia, três negativos ---

A cidade é o deserto consumista de barganhas.

Troca-se, vende-se, aluga-se, desvia-se quem acha

que a moeda é o melhor, único dos motivos...

Criatura que traz o deserto nas próprias entranhas.