Fibhaiku: tu já leste algum?


O fibhaiku (nome formado de Fibonnaci + Haiku) é um poema minimalista da família do haicai. Este tipo de poema, que eu saiba, no Brasil, ainda é quase desconhecido. Atribui-se sua criação ao poeta John Frederick Nims em 1974.

O fibhaiku, experimental na poesia ocidental, conta uma história rápida, pequena, concisa... é um "soco"! Desse fato originou-se como gíria nos guetos de algumas cidades dos EUA o termo fib para designar "soco".

Este texto é o resultado de pesquisas na Internet, de troca de e-mails com os escritores Nilza Azzi e Ronaldo Rhusso e de comentários deste último em fibhaikus, no fórum do Recanto das Letras.

Algumas normas para redigir um fibhaiku (fib):

• não possui numeração, pois o título é obrigatório e faz parte do poema;

• tem 20 sílabas poéticas, que incluem o título, o qual entra na contagem de versos como o primeiro;

• o segundo verso deve ser um dissílabo paroxítono, porque deve ter apenas um som, sendo assim um dissílabo oxítono não cabe nesse verso, pois ele ficaria com dois sons;

• a contagem de sílabas poéticas dos versos segue a sequência de Fibonacci (1,1,2,3,5,8,13...): cada verso tem o número de sílabas poéticas, que é a soma das dos dois versos anteriores: título, que é o 1º verso, uma sílaba poética ; 2º verso, 1 (considerando-se que antes do 1º verso, o número de sílabas é zero); 3º verso (soma das sílabas do título (1º verso) com as do 2º verso), 2; 4º verso, 3; 5º verso, 5, 6º verso, 8...) em uma sequência infinita;

• não aceita duetos (é uma sequência infinita);

• nele pode-se expressar o subjetivo: sentimentos, emoções, estado de alma;

• sua estrutura é rígida;

• está associado ao OuLiPo.

Como foram citados nomes ligados à matemática, fazem-se necessárias algumas explicações:

1) Fibonnaci - Leonardo Pisano ou Leonardo de Pisa (1175-1250) nasceu em Pisa (Itália). Depois de sua morte, ficou conhecido como Fibonacci (filho de Bonacci). É considerado o mais talentoso matemático da Idade Média.

Esse matemático italiano ficou conhecido por ter criado os Números de Fibonacci e por ter introduzido na Europa o moderno sistema decimal posicional arábico, ideal para escrever e manipular números (algarismos). Se hoje usamos os dígitos de 0 a 9 e os alinhamos da direita para a esquerda para indicar quantidades cada vez maiores, devemos isso à divulgação feita por Fibonacci.

A sequência de Fibonacci consiste em uma sequência de números, de modo que, definindo os dois primeiros números da sequência como sendo 0 e 1, os números seguintes são obtidos pela soma dos seus dois antecessores. Portanto, os números são: 0,1,1,2,3,5,8,13,21,34,55,89,144,233,...

Recentemente, a sequência de Fibonacci tornou-se um tema célebre da cultura popular ao ser citada no livro e filme O Código Da Vinci.

2) O OuLiPo (Ouvroir de Littérature Potentiel), algo semelhante a uma oficina de literatura em potencial, é uma corrente literária formada por escritores e matemáticos, que propõem a libertação da literatura, aparentemente de modo paradoxal, mediante "constrangimentos literários". Trata-se de exercícios que, partindo de uma norma pré-estabelecida, em vez de limitar, favorecem a imaginação e estimulam a produção textual.

Esse movimento surgiu na França, em 1960, e tem entre seus principais autores Raymond Queneau, François Le Lionnais, Georges Perec e Italo Calvino.

Marcel Bénabou e Jacques Roubaud, integrantes do Oulipo, no artigo intitulado O que é o OuLiPo?, dizem que "é a literatura em quantidade ilimitada, potencialmente produzível até o fim dos tempos, em grande quantidade, infinita para todos os usos". Como exemplos das regas propostas para suas produções literárias estão: escrever um romance inteiro, utilizando uma só vogal (Les revenentes, de Georges Perec), utilizar ao máximo a linguagem oral (Zazie no Metrô, de Raymond Queneau), entre outras restrições.

Seguem três exemplos de fibhaikus.

1.



Um
Fulgor
Nesse olhar
Que muito me agrada...
Ele é o espelho d'alma mais linda!

Ronaldo Rhusso

2.



Se
Vejo
A meta
Com clareza,
Vale minha ação,
Pois o melhor revelará.

Nilza Azzi

3.


Cinza
chuva
não para
Sangra em mim
martírio sem fim.
O vento assobia saudade.

Mardilê Friedrich Fabre


Referências

http://gottabook.blogspot.com/2006/04/fib.html
http://laminute.canalblog.com/archives/2006/09/18/2224350.html
http://blogue.bandeapart.fm/2006/05/le_fibbing.php
http://www.numaboa.com/escolinha/historia-matematica/102-finobacci
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=20629
http://remosaraiva.blogspot.com/2008/01/exerccios-do-oulipo.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Oulipo
http://www.recantodasletras.com.br/forum/index.php?topic=4557.0