Análise do conto “civilização”

Eça de Queiroz é um escritor português, representante consagrado do realismo. Popularizou-se como grande romancista e contista, diante de uma vasta obra pode-se destacar o conto “civilização”

Submetendo esse conto a uma análise, pode-se observar os aspectos: ação, tempo, espaço, ponto de vista e recursos narrativos.

A ação pode ser interna ou externa. A primeira ocorre na medida em que o narrador se recorda dos fatos acontecidos, haja vista, que o conto é narrado em 1ª pessoa e no pretérito, assim todos os fatos já aconteceram, constituindo-se, dessa forma em lembranças.

Quanto à ação externa ocorre em quase todo o conto, no “palácio” de Jacinto e mais especificamente na sua biblioteca, sala de jantar, quartos, estação e velhor solar de torges. Pode-se destacar também as categorias da ação como: “verossimilhança”, pois o conto se organiza como se desse na realidade, isto é, segundo uma coerência relativa que preside os elementos da vida diária e intimamente ligada a verossimilhança existe a categoria “necessidade” que diz respeito a obrigatoriedade dos atos, cenas, gestos ou atitudes no curso de ação do conto para a construção de um todo significativo da estória Também, pode-se destacar a “intensidade “ (própria) do conto que contribui para a existência de uma unidade significativa que vincula os atos e/ou fatos narrados, ao protagonista (Jacinto).

O segundo aspecto a ser analisado é o tempo, este bifurca-se em dois âmbitos: cronológico e psicológico.

Nesse conto de Eça de Queiroz, entende-se que podem existir os dois tipos de tempo, na medida em que o cronológico é um fator fundamental na narrativa, é exposto em forma de idades como: a idade de Jacinto no início do conto “vinte e oito anos”, e com o desenvolvimento do conto, Jacinto aparece com “trinta anos” demonstrando um transcorrer de tempo da narrativa; também evidencia-se a mudança da estação do ano “depois desse inverno...sucedeu que Jacinto teve a necessidade moral iniludível de partir para o norte...”.

Já quanto ao psicológico, percebe-se sua existência, pelo fato, da estória estar sendo narrado por uma personagem que já viveu “o acontecido” e tem conhecimento de todos os detalhes e fatos narrados.

No conto, o terceiro aspecto, “o espaço” se caracteriza por prover uma passagem do ambiente urbano para o campestre. Assim, trata-se de uma história urbana, pois o cenário é predominantemente construído pelo homem, ou seja, o interior da casa (a biblioteca, a sala de jantar e os quartos) e num segundo momento o conto é caracterizado por um cenário, rústico, pobre e desconfortável, mas se torna aconchegante com a implementação de elementos provenientes da civilização urbana (vidraças novas nas janelas, louças brancas de barcelos, cadeiras de palhinhas, etc).

Já o ponto de vista que se dá através da primeira pessoa, é narrado por uma personagem secundária, pois comenta o drama do protagonista.

Quanto aos recursos narrativos é utilizado no conto o diálogo que é enunciado de forma direta entre o narrador e as personagens “-Para todo o verão?- para todo o sempre”; a descrição também é um recurso narrativo bastante importante, pois está presente em grande parte do conto, principalmente no decorrer das páginas onde é descrita a biblioteca. Já a narração (outro recurso) implica acontecimentos” como: a pane do fonógrafo; “ação” que pode ser interna ou externa como foi anteriormente explicitado e por último o “o movimento” que pode ser exemplificado com o deslocamento de “Jacinto” para o “norte”. E como último recurso narrativo tem-se a dissertação que diz respeito as idéias ou conceitos que aparecem no conto: a idéia (ou mensagem ideológica) transmitida é a de que a felicidade só será possível mediante o equilíbrio entre a civilização (benefícios proporcionados pela modernidade) e a convivência com o meio natural, o bucolismo, o rústico, ou seja, a comunhão com a natureza.

Entretanto, o conto “civilização” se desenrola num conflito que atinge o protagonista que enfrenta uma crise existencial.

Desde a primeira página com a expressão “bocejava” o conto dá sinais de que nem sempre o conforto proporcionado pela riqueza e modernidade é suficiente para uma felicidade plena. Assim, no decorrer da narrativa “Jacinto” recorre a todos os meios “tecnológicos e filosóficos” para vencer o tédio que caracterizava sua vida, chega ao ponto de manter dois pesquisadores, um na América e outro na Inglaterra para fornece-lhe as novidades tecnológicas. E para se conformar com a tristeza e o aborrecimento que era sua vida, se debruçava no pessimismo de um Schoprnhaurer e um Eclesiastes.

Dessa forma, verificam-se dois momentos distintos, presentes no conto. O primeiro se caracteriza pela sofisticada vida do protagonista que está rodeada por uma alimentação e os talheres selecionados com todo rigor; comidas ornamentais; vestimentas de grande qualidade e higiene. Mas, essa sofisticação tecnológica causa também transtornos como: a pane no fonógrafo. Porém, fica patente, que algo não está certo, através das constantes indagações do narrador “Que faltava a esse homem excelente?” e é justamente após uma dessas indagações “Mas por que rolava assim a tão escura desilusão - o saudável, rico, sereno e intelectual Jacinto?” que ocorre o divisor de águas do conto.

O segundo momento se caracteriza inicialmente pela ida de “Jacinto” para o norte e lá ele encontra uma situação totalmente adversa: a refeição é feita por um bando de mulheres, a louça velha, a comida e a bebida campestres, no entanto com um sabor surpreendentemente bom, conquistando o paladar e a admiração do protagonista.

Assim, Eça de Queiroz, produziu no conto uma esfera propícia à valorização do “não – eu”, ‘ preocupação com o presente e o contemporâneo”; “pensamento do seu tempo” e ‘cientificismo”. Além disso, percebe-se na obra resquícios do Evolucionismo de Charles Darwin “não há idéia mais consoladora do que esta que eu, e tu, e aquele mantém, e o sol que agora se esconde, somos moléculas do mesmo todo, governado pela mesma lei; rolando para o mesmo fim”. Todavia, fica notável que essa narrativa analisada se encontra na terceira fase da obra de Eça, isto é, o nacionalismo nostálgico, a busca por suas raízes.

junior trezeano
Enviado por junior trezeano em 12/02/2009
Reeditado em 07/10/2009
Código do texto: T1435320