Notas sobre Goethe

Sem dúvida, uma das idéias principais apontadas por Goethe é a concepção do desenvolvimento a qualquer preço. Tal programa caracteriza não só a ação de multinacionais, como também o discurso e a prática dos países desenvolvidos ou daqueles em desenvolvimento.

Problemas ecológicos e da criação de uma econômica sustentável são tratados como se fossem algo de menor importância diante dos imperativos do mercado. Assim, como observamos no poema o ser humano desaparece nesta perspectiva que nos transforma em insetos ou empecilhos que devem ser eliminados caso provoquem qualquer tipo de problema para os dominantes. Dominantes que não possuem rostos que se escondem numa rede burocratizada de informações que disseminam o poder numa rede cada vez mais complicada e difícil de ser compreendida. Portanto, enfrentamos o nosso demônio que assume um papel que quase todos julgam benéfico para a humanidade. Aplaudimos o nosso próprio sofrimento e admiramos os nossos próprios carrascos.

A poética de Goethe permanece atual exatamente pelas características apontadas. Por outro lado, não sentimos as mesmas sensações vividas por Fausto na sua trajetória de criação e destruição? O ritmo, inclusive, tornou-se ainda mais alucinante do que aquele descrito nas mais loucas aventuras do nosso protagonista. Quem poderia se assustar com as propostas de Mefistófeles atualmente?

Cambaleamos entre a onipotência e a impotência diante das nossas desventuras, diante da nossa mediocridade, dos nossos desejos e das nossas limitações. Ficamos deslumbrados, embasbacados e, cada vez mais, prepotentes, sem perceber, contudo, nossa infinita tristeza latejando em cada uma das nossas inúmeras frustrações.

Somos também levados, empurrados, desnorteados e confundidos por tais forças que devastaram todo o passado e que transformam o mundo num imenso estoque mercadorias. Descendo a Rua Prudente de Morais, no quarteirão anterior e também no próprio quarteirão da FABAN podemos, inclusive, perceber tal fome destrutiva que engole a arquitetura, transformando as cidades em cópias de outras. O tédio de caminhar pelas mesmas ruas, não importando o lugar.

Um olhar arguto sobre a vida nas grandes cidades. Baudelaire vai além das aparências cotidianas da vida urbana e salienta as contradições do mundo burguês. Pretende refletir também sobre o papel e o lugar do artista na nova sociedade de consumo que vai se delineando a partir daquele momento. Uma dose de absinto simbolizaria tal tarefa.

Matheus Marques Nunes

Marques Nunes
Enviado por Marques Nunes em 29/05/2009
Código do texto: T1621228