EU ME RECUSO A CRER...
* Nadir Silveira Dias
Eu me recuso a crer que a poesia deva ser feita apenas para os que ainda estão por nascer.
Eu me recuso a crer que a poesia não possa ser entendida de imediato, a sua simples leitura.
Eu me recuso a crer que a poesia tenha como prioritária característica essa condição de ser entendida apenas depois de muitas e muitas leituras e análises e mais análises.
Eu me recuso a crer que a poesia deva ser essa coisa hermética, esse texto-obra com o mistério típico dos alquimistas.
Eu me recuso a crer que a poesia não seja poesia apenas porque contenha somente versos brancos.
Eu me recuso a crer que a poesia seja um serviço-arte do presente para servir somente ao futuro.
Eu me recuso a crer que a poesia não possa ter a singeleza dos verbos ditos pelas crianças.
Eu me recuso a crer que a poesia seja apenas para certos iniciados.
Eu me recuso a crer que a poesia não possa dizer a que veio.
Se a poesia é para ser sentida, como vai ser sentida se sequer pode ainda ser compreendida no significado léxico implícito que contém?
Sou um daqueles que crêem que a poesia para ser poesia precisa ter beleza e verdade.
Se não tiver beleza ou verdade aí sim poderá ser tida por não-poesia, ainda que expressa em forma de poema.
Sim, porque se não tiver expressado uma verdade ou versejado uma beleza, ela poesia - terá transmitido o quê? Para o agora ou para o futuro?
Sou um daqueles que crêem que a poesia – como qualquer escrito – caso possuam a condição de ultrapassar os séculos tem no seu âmago, no seu cerne, no seu leitmotiv, motivo condutor, a qualidade típica das coisas duradouras, materiais ou imateriais.
Ah! O seu artífice? Obviamente que será mais lembrado, mais venerado aquele que vencer os séculos.
Mas e aos de seu tempo, terá satisfeito com a sua verve, com a sua qualidade-condição de escrever poesia (ou prosa)?
E se é verdade que também temos obrigação com o futuro – Porque o futuro é logo amanhã! – não é, nem nunca será, menos verdade que temos absoluto compromisso – e ainda maior – com os nossos contemporâneos. Aqui e agora!
Você não pensa assim?
* Escritor e Poeta – nadirsdias@yahoo.com.br