Retórica Poética (Como ser poeta)

“todos nós temos a capacidade do ‘ser poeta’ basta buscarmos o sentimento”.

O ‘ser Poeta’ é aquele que compreende a poesia, mesmo que por instinto, um poeta não precisa ser um erudito, pois a erudição nada mais é que o refinamento de algo mais primitivo, que todos nós possuímos: O SENTIMENTO.

Antes de se pensar em fazer poesias é preciso sentir a poesia, porque poesia é um sentimento, é uma emoção em que o poeta, em seu modo de sentir, tenta representar criando a arte. Uma vez possuído pelo impulso sentimental e o canalizando em algum formato ou objeto o indivíduo se faz artista independentemente do formato utilizado, afinal um pintor expressa seu sentimento toda vez que despeja sua poesia em uma tela, um musicista expõe sua poesia antes mesmo de juntar sua melodia às palavras; toda vez que traduz um sentimento em notas musicais ele está sendo poeta. Portanto, a palavra (escrita) é só mais uma canal de se externalizar a poesia.

Depois de escolhido o suporte, o poeta, com seu olhar peculiar, observa a poesia dentro de si e ao seu redor e vai fundo no sentimento, deixando transbordar o puro impulso criativo, exemplificado aqui como uma pedra de potencial preciosidade. Porém, ainda em estado bruto, coletando a inspiração que ativa a representação do sentimento.

É interessante observar que não existe uma mina onde coletar essa pedra, pois a poesia está em toda parte, só exige olhos sensíveis, capazes de quebrar muralhas e construir altares, galgados no pensamento inspirador, criando e distorcendo a realidade através de seu olhar. Esse olhar poético é conquistado através da pura e simples observação seguida de uma reflexão ou uma simples descrição capaz de revelar o seu olhar, a sua versão. Embora a criação poética seja algo individual ela nunca será exclusiva e de sentido único, pois cada leitor dará sentido ao que lê trazendo a tona os seus sentimentos, lidos nas entrelinhas do texto.

No poema é possível observar uma larga gama de formas e estilos de expressão poética, formas que variam em motivação, pensamentos, sociedade e o tempo histórico onde coexistem os poetas. Iniciada a busca pela lapidação de sua pedra bruta é importante observar e conhecer os estilos poéticos que se apresentam mundo afora em cada época e meio sociocultural, destacando as ferramentas usadas a fim de adquirir aquele refinamento que nos encanta e imortaliza os grandes poetas.

A partir do momento em que as formas são analisadas, as ferramentas textuais, como as figuras de linguagem, rimas, ritmos e métricas são destacadas e a utilização nas formas específicas, tais como sonetos, trovas, haicais e acrósticos são garimpados, o poeta adquire a possibilidade de escolher quais ferramentas e como utiliza-las para lapidar sua pedra bruta. É importante não cultivar a preocupação com a adequação aos estilos existentes e sim com o seu hábito de valorizar e criar o seu próprio estilo, lembrando sempre: há pepitas mais valiosas que joias trabalhadas, no entanto, o que realmente importa é a pureza da pedra.

Às vezes de forma difícil, outras vezes fácil, o poeta é construído, sendo que todos nós temos a capacidade do ‘ser poeta’ basta buscarmos o ‘sentimento’.

Renan Wangler

Ensaio publicado na Revista literária digital A Elipse, ano I, N. I