Escrevendo sobre os verbos considerados polêmicos

Prólogo

OBSERVAÇÃO OPORTUNA E NECESSÁRIA

As observações e exemplos que representam, simbolicamente, a essência do introito desta ficção são frutos da imaginação do autor e as coincidências com os nomes e lugares nada têm haver com a realidade.

De igual modo, e mais precisamente, os ensinamentos dos verbos aqui elencados poderão ser encontrados em todas as boas gramáticas de nosso idioma pátrio! Prestando a devida atenção como se escrevem determinadas palavras neste contexto, de modo indubitável o leitor arguto aprenderá, pelo método subliminar, mais ainda por conta própria.

Sob a sombra tépida do jenipapeiro, cujas bagas globosas, maduras, esplendiam aroma singular, uma jia espreitava atenta e à espera de uma melhor ocasião para se mexer. Cristalizada, como se estivesse petrificada, o pequeno animal que ainda não houvera atingido a idade adulta, vislumbrou ao longe uma xícara grande, velha, sem asa, onde poderia facilmente se esconder até o anoitecer.

Por trás de uma abóbora (No Nordeste esse fruto é mais conhecido por jerimum) gigante, cuja aboboreira se estendia até um poço de profundeza abissal, uma jiboia, ainda bebê, espreitava fixamente seu possível jantar. Um pouco mais adiante um pica-pau, indiferente aos acontecimentos ao seu derredor, bicava uma árvore apontando seu bico: Toc. Toc. Toc. Toc...

Passadas quase imperceptíveis eram ouvidas a uma pequena distância. Cerca dali, conduzindo uma lazarina seminova, às costas, Henrique solfejava uma canção antiga de nome Rosario De Amargura - Luiz Wanderley: “Você que vive falando... Que a sua vida é um rosario de amargura... Quando a mulher chora pelo homem... É mentira pura. A Mulher que eu amei... A todos ela amava... E a mulher que eu gostei... De todos ela gostava...”.

A espingarda calibre .32 fora um presente de Wilson que no último verão viera visitá-lo em gozo de férias e dar início a escrita de seu mais novo romance dramático intitulado: “Os amores de Luzia”.

Nesse romanceado escrito do autodidata Wilson seriam ensinados, particularmente, se o leitor assim quisesse entender, o uso correto e a perfeita compreensão dos verbos: Ter, pôr, vir e ver. Ora, quais dificuldades têm os estudantes e escrevinhadores ou escritores de meia-tigela iguais a ele mesmo (Wilson)? Simples: Vejamos essa piada de cunho acadêmica muito contada pelos professores do idioma pátrio:

Certo dia as bibliotecárias Maria Eduarda da Conceição e Cláudia Analu dos Santos Amaral receberam um grupo de estudantes que pretendia fazer uma pesquisa na Biblioteca onde trabalhavam as dedicadas e competentes administradoras. Uma das estudantes se adiantou e dirigindo-se à bibliotecária Analu disse: “Boa tarde! Nós viemos aqui para fazermos a pesquisa agendada...” – Incontinênti, como Wilson também teria indagado, Analu perguntou à líder do grupo: “Quando?”.

Provavelmente o leitor amigo não compreendeu, de chofre, a piada considerada de salão. Explico: Quando a aluna pesquisadora disse: “Nós viemos aqui para fazermos a pesquisa agendada...” deveria ter dito: “Nós VIMOS aqui para fazermos a pesquisa agendada...”.

Ora, VIMOS é o Presente do Indicativo do verbo vir e, é claro, “viemos” é o Pretérito (passado) Perfeito do mesmo verbo. Do modo como se expressou a estudante deu a entender à notável bibliotecária Analu que eles (os pesquisadores) já teriam elaborado suas pesquisas em data passada.

Brincadeiras à parte, conto mais um exemplo dessa linguagem coloquial que se firma entre as pessoas mais comuns. Quando Henrique ou Wilson estão dentro de um coletivo vêem e/ou escutam o sinal sonoro de alguém solicitando a parada do ônibus.

Se o motorista apressadinho não parar o coletivo de imediato o solicitante berra: “Vai descer motorista!” – Ora, o correto seria gritar: “Vou descer motorista!” porque o “Vai descer...” dá a entender que o passageiro está se referindo a uma terceira pessoa e não a ele mesmo solicitante da obsequiosa parada do ônibus.

Haja o que houver o profissional do volante (motorista), por esse pequeno deslize do passageiro NÃO haverá de pisar no breque com violência para dar um "freio de arrumação". A linguagem coloquial é válida e compreensível quando se dispõe de boa vontade e atenção.

Muitos são os verbos que trazem dificuldades ao cidadão comum mais ao escrever do que no falar; certamente você já enfrentou problemas com eles ao falar ou ao escrever uma frase qualquer. Os verbos ter, pôr, vir e ver são alguns deles. Vamos a eles:

Esqueçamos essas brincadeiras e a linguagem coloquial para aprimorarmos um pouco mais o nosso estudo. A primeira dificuldade, em relação aos verbos ter, ver e vir, é a acentuação. Como se escrevem? Com um “e” só? Com dois “ee”? Com acento agudo? Ou circunflexo?

Os verbos ter e vir serão escritos com um "e" só e com acento circunflexo (^) quando o elemento que tem algo ou que vem a algum lugar ou de algum lugar (o sujeito) estiver na terceira pessoa do plural (eles, elas, vocês...) do presente do indicativo (Todos os dias...).

Teremos, então, frases como "Todos os dias eles têm que estudar"; "Elas vêm até aqui para conversar"; "Vocês têm coragem?". Se o sujeito estiver no singular, não haverá acento algum: "Todos os dias Conceição tem de estudar"; "Luzia vem até aqui, todos os dias, para conversar com seu namorado Henrique"; "Você tem coragem?".

Os derivados desses dois verbos (manter, conter, deter, reter, intervir, provir, convir...) receberão acento agudo quando o sujeito for a segunda pessoa do singular (tu) ou a terceira pessoa do singular (ele, ela, você...) e receberão acento circunflexo quando o sujeito estiver na terceira pessoa do plural (eles, elas, vocês...).

Teremos, então, frases como "O deputado Trambirica diz que mantém sua palavra"; "Essas caixas provêm dos Estados Unidos"; "Tu deténs teus ímpetos?".

Já o verbo ver e seus derivados serão escritos com dois “ee”, com acento circunflexo no primeiro deles, quando o sujeito estiver na terceira pessoa do plural do presente do indicativo. Teremos, então, frases como "Os meninos vêem os jogos da seleção sempre"; "Alguns homens dizem que prevêem o futuro". Se o sujeito estiver no singular, esses verbos serão escritos com um "e" só e com acento circunflexo. Teremos, então, frases como "O menino vê os jogos da seleção sempre"; "Aquele homem diz que prevê o futuro".

A segunda dificuldade, em relação aos verbos ter, pôr, vir e ver, é a conjugação deles em certos tempos e modos. O certo é "quando eu pôr" ou "quando eu puser"? "Se eu vir ao colégio" ou "Se eu vier ao colégio?”

O tempo verbal denominado pretérito imperfeito do subjuntivo indica hipótese, condição, é iniciado pela conjunção "se" ou pela conjunção "caso", é caracterizado pela desinência "sse" e geralmente acompanhado de outro verbo no futuro do pretérito do indicativo, tempo caracterizado pela desinência "ria": "Se eu estudasse mais, conseguiria melhores notas do que o tio Wilson"; "Caso estudássemos mais, conseguiríamos melhores notas do que os dicotômicos Wilson e Henrique".

O tempo verbal denominado futuro do subjuntivo indica possibilidade futura, é iniciado pela conjunção "quando" ou pela conjunção "se", é caracterizado pela desinência "ar", "er" ou "ir" e geralmente acompanhado de outro verbo no futuro do presente do indicativo: "Se eu estudar mais conseguirei melhores notas"; "Quando estudarmos mais, conseguiremos melhores notas".

Esses dois tempos verbais são formados a partir de outro tempo denominado pretérito perfeito do indicativo, que indica ação ocorrida no passado em determinado momento: "Ontem eu conversei com a tia Luzia". A terceira pessoa do plural desse tempo é caracterizada pela desinência "ram": "Ontem eles conversaram com a tia Luzia". Se retirarmos as duas últimas letras dessa desinência ("a" e "m"), formaremos a base para o futuro do subjuntivo.

Se retirarmos também a letra "r" e acrescentarmos a desinência "sse" formaremos a base para o pretérito imperfeito do subjuntivo. Vejamos, então: "Ontem eles conversaram" é o verbo conversar no pretérito perfeito do indicativo; "Quando ele conversar", no futuro do subjuntivo; "Se ele conversasse", no pretérito imperfeito do subjuntivo.

Agora analisemos os verbos apresentados como problemáticos - ter, pôr, vir e ver: Ontem eles tiveram, eles puseram, eles vieram e eles viram = pretérito perfeito do indicativo; Se ele tiver, se ele puser, se ele vier, se ele vir ("vir", do verbo ver) = futuro do subjuntivo; se ele tivesse, se ele pusesse, se ele viesse, se ele visse = pretérito imperfeito do subjuntivo.

O mesmo acontece com os derivados desses verbos: Se eu mantivesse, se eu detivesse, se eu propusesse, se eu compusesse, se eu interviesse, se eu proviesse, se eu previsse, se eu antevisse, quando eu detiver, quando eu retiver, quando eu intervier, quando eu provier, quando eu previr, quando eu antevir.

A terceira dificuldade, em relação a ver e vir, também é referente à conjugação, mas agora o problema são palavras semelhantes: vir - vimos... “Vir" tanto pode ser o infinitivo do verbo vir quanto o futuro do subjuntivo do verbo ver: "Se você o vir (verbo ver), diga-lhe para vir (verbo vir) até aqui. O mesmo se sucede com todas as pessoas: "Se vocês os virem, digam-lhes para virem até aqui".

“Vimos" tanto pode ser a primeira pessoa do plural do presente do indicativo do VERBO VIR quanto a primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo do VERBO VER. Exemplo: "Nós vimos aqui agora porque ontem nós vimos o que aconteceu com você.".

CONCLUSÃO

"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda." – (Paulo Freire).

"Os educadores precisam compreender que ajudar as pessoas a se tornarem pessoas é muito mais importante do que ajudá-las a tornarem-se matemáticas, poliglotas ou coisa que o valha." – (Carl Rogers).

"A imortalidade de que se reveste a natureza humana faz o homem sempre presente. Presente pela amizade que conquistou; presente pelo exemplo que legou; sempre presente porque educou.” – (Michel Wolle).

“Vale e é gratificante o bem ou bastante ensinar a quem não dispõe de tempo, não pode, por contingências alheias a sua vontade, sequer tentar aprender.” – (Wilson Muniz Pereira).

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NOTAS REFERENCIADAS E BIBLIOGRÁFICAS

- Nova Gramática da Língua Portuguesa Para Concursos - Nova Ortografia - 4ª Ed. 2011 - Autor: Bezerra, Rodrigo

- Wikipédia, a enciclopédia livre;

- Dicas de Português – Do professor e poeta Dílson Catarino;

- Notas de Aulas do Autor - Pós-Graduação;