estrutura do conto
Inda ontem na internet eu li um cara dizendo que “A grande maioria dos contos que leio hoje em dia não contam nada. São registros de emoções, de impressões, de lembranças, entremeados com pequenos episódios. Servem ao autor para exemplificar uma ideia, mas a rigor não constituem uma narrativa...”. Dizia que “No conto narrativo há sempre um senso de urgência, de tensão, uma concentração dramática nos fatos narrados que lhes dão um poder hipnótico e deixam em nós um eco inesquecível”. O cara assina Braulio Tavares, e ele é escritor, também é letrista — portanto, sabe do que fala.
  Outro dia ainda, ainda na internet li uma definição, usando a pessoa do arquifamoso Joãozinho a respeito da estrutura dos contos, e que, a meu modo, transcrevo. É mais ou menos como segue, assim:
  A professora de literatura diz pra molecada que “Um conto, para ser bom, deve conter uma alusão a Deus, uma referência à nobreza, um apelo à moral e, além disso, deve ser o mais curto possível. Quero que cada um de vocês escreva um conto usando esses quatro elementos.”
  Cinco minutos depois Joãozinho entregou à professora o seu conto, que se resumia na frase “Por Deus — disse a duquesa —, tire a mão daí!”.
  Lógico que, pelo primor de síntese, a professora deu 10 a Joãozinho.
  Também outro dia, agora fora da internet, eu, que não sou escritor nem nada — seria um borra-papéis, hein?! —, eu fui desafiado por uma colega a escrever um conto com cabeça, tronco e membros. Por que, ela acha, rabisco coisas sem pé nem cabeça... muito menos com membros. Peraí, argumentei, é são membros ou é é membro, não sei, num sei se entendi direito. Sei que tenho um tronco entre a cabeça e os pés; dele saem braços donde cunham mãos, saem pernas e em seus extremos evidenciam os apêndices pés; entre as pernas, falo, tenho apenas um único membro. Será que entendi direito? O que entendi bem direitinho é que tem vez que — você diz —, eu ponho o troço de ponta-cabeça, é isso, isso eu entendi; e aí — você diz —, meto os pés pelas mãos.
  Bem. Com o seu desafio vou tentar fazer a coisa certinha: começo—meio—fim. Não começarei pelo meio e então não darei meia volta ao começo, e dele não vou zunir ao fim; ou, não vou começar pelo fim, e só então não retrocederei ao começo, e aí, lá pelas tantas, não terminarei no meio. Caramba, volteei todo confundido e bambeio, tô barafustado!
  O que te mata é a mardita!
  Mas eu tô de cara limpa....
  É, então escreve, sô, quero ver! Empacou?! Vamos lá, homi. Ruuum!
  Tá, vamo lá:
  O começo: Era uma vez no Paiol Velho, Germino & Açucena...
  O meio: ... sucede então que se encantam tanto tanto que num se guentam, e esgrimam...
  O fim: ... finda com cada qual enfiando seu florete no coração do outro.
  É, num impactei! Será, empaco no começo, no meio e no fim?!
  Visto tal fracasso, tentarei mais outra vez. E essa é uma história que fora acontecida fora daquela ambiência, noutra paragem, há tempos... sem a lengalenga daqueles personagens pra lá de enjoados, aqueles mortos-vivos:
  De carro viajávamos do Rio a Cabo Frio. Mamãe sentada no banco do carona, eu ao lado, miúdo na cadeirinha, e Papai dirigia. Íamos indo e ainda no Aterro do Flamengo, apontando ao horizonte da Baía de Guanabara, Pai exclama a Rio—Niterói:
  “Olha lá, Mino! Aquilo é uma ponte!”
  “Minha nossa! A gente aprende muito quando viaja!
  Eu sempre pensei que isso era um DEDO!
...
Germino da Terra
Enviado por Germino da Terra em 05/08/2011
Reeditado em 08/10/2011
Código do texto: T3140914
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