Sobre a crônica

Os que escrevem têm consciência de que cada um é responsável pelo texto que assina, ou seja, é preciso ter um fundamento para o texto que cria e só assim ele será o autor daquele texto. Se tal não ocorrer, o 'suposto' escritor estará sempre repetindo os outros sem jamais dar sua própria interpretação ao que escreve; não estará criando nem acrescentando nada e cairá, então, nas palavras de Horácio:"...palavras e nada mais".

Pedem-me que escreva sobre a crônica aqui neste espaço.

É evidente que não vamos esgotar todas as possibilidades de se argumentar sobre a "crônica", mas daremos algumas 'dicas' de forma abrangente de modo que a orientação possa, de fato, ajudar.

Vejamos:

CRÔNICA, COMO A PRÓPRIA ORIGEM DA PALAVRA REFERE, relaciona-se com 'tempo'. Mas o passar desse mesmo tempo modificou o valor semântico da palavra.

Há vários tipos de crônicas, sendo frequente a crônica jornalística e a literária. Interessa-nos aqui a crônica literária - um tipo de narrativa muito ao gosto dos leitores atuais.

A crônica manifesta a visão do cotidiano em que a subjetividade do autor 'dá as cartas'. O cronista é, por excelência, um espectador, um observador, o registrador da vida momentânea; "aquele que impede um pouco a morte dos tempos", no dizer de G. Campos.

Coordenar as palavras e o pensamento dentro de uma sequência expositiva é garantir o equilíbrio entre qualidade e quantidade textual. E assim exige a crônica.

O cronista é atual, é interessante, além de corresponder às expectativas do público. Ele expressa a opinião popular de um jeito rápido, acessível e evidentemente amarra uma identificação com seus leitores.

No Brasil a crônica tem grande prestígio. O cronista, muitas vezes, é o 'vingador' do público, notadamente quando as crônicas abordam, de modo satírico/irônico, uma visão dos problemas reinantes. Henrique Pongetti, grande cronista, escreveu que 'o cronista é o historiador menor (no sentido de breve) de sua época'.

A crônica, por ser leitura leve e fácil, é sempre do agrado do leitor, e assim ela acaba sendo um 'bate-papo entre amigos', conforme M. Bandeira. Ou pode ser definida como se os hippies dissessem: "podes crer, amizade!" (C. Oliveira)

Mas a chave de toda a criatividade literária (além do DOM, por óbvio) é a LEITURA - essa aventura do espírito humano! E para ser um bom cronista há que ser, pois, um ótimo leitor com aguçado senso de observação.

RESUMINDO:

A crônica é um 'flash' do cotidiano, onde o autor se movimenta com liberdade, tanto para contar como para comentar o que lhe serve de temática. É uma conversa rápida com um pouco de poesia e muita graça. É aquele texto que "dá bom-dia, boa-tarde, boa-noite" (A. Moreyra) sem cansar o leitor.

A linguagem usada geralmente tem verbos no presente do indicativo, na primeira/terceira pessoa e é muito dinâmica (frases curtas).

"É obrigação do cronista ser leve, nunca vago; ser íntimo sem ser intimista; ser claro e preciso sem ser pessimista. E sua crônica deve ser um copo d'água em que todos bebem e a água há de ser fresca, limpa, luminosa para a satisfação real dos que nela matam a sede." - assim disse Vinícius de Morais.

Para finalizar, e para tentar distinguir crônica de conto, diríamos que aquela é uma fotografia em movimento; este, uma fotografia parada.

Se fui clara e útil, ótimo!

Espero ter correspondido à expectativa dos solicitantes.

Beijos líricos,

lilu

Bibliografia:

Leivas, L. A. "Apostila do curso para servidores da UFPEL sobre Língua Portuguesa e Redação: oficial, adloquial, coloquial, literária". EGU-UFPEL, Pelotas.

Campos, Gilse. "A crônica". "Letras de hoje", PUC-RS

Moreyra, Álvaro. "Narrativas" - excerto na Revista de Língua Portuguesa, nº 2

"Estudo e Debate de Assuntos de Línguística, Literatura e Língua Portuguesa" - PUC-RS, Centro de Estudos de Língua Portuguesa - Curso de Pós-Graduação de Línguística e Letras. Revista nº 26

lilu
Enviado por lilu em 27/11/2011
Reeditado em 01/12/2011
Código do texto: T3360078