O auto da Barca do Inferno de Gil Vicente

No Auto da Barca do Inferno,Gil Vicente se enquadrou no Humanismo,por possuir uma característica de valorizar o homem(antropocentrismo).Trata-se de um motivo religioso:o juízo final,ou seja,a busca do paraíso.

Podemos observar que o perfil é própriamente religioso que é representado por"céu e inferno",mas que já está passando por um momento de transição,percebe-se que o homem já se faz presente nesse cenário,onde suas decisões prevalecem,o indivíduo possui em vida o livre arbítrio.

O aspecto mais importante desse auto é a problemática social,que se caracteriza com a presença de vários personagens pertencentes a diversas classes sociais,nas quais se destacam o clero,a nobreza e o povo,onde a ideologia predominante á a cristã,logo,fazendo parte do clero,ou seja,o pensamento da igreja católica.Temos como exemplo o sapateiro ladrão(condenado por ter agido de má fé em seu comércio e ser um hipócrita religioso),o ingênuo Joane ou Parvo(que foi glorificado por sua modéstia e humildade).

A história se caracteriza com duas embarcações,a primeira é condenada pelo diabo que conduz o indivíduo ao inferno,a segunda é comandada pelo Anjo,que conduz a vida eterna(paraíso);é importante ressaltar que a ida ao paraíso,depende necessariamente que o indivíduo renuncie de seus bens materiais,doando-os para a igreja. Cada indivíduo será julgado pelo que faz em vida,o Diabo e o Anjo acusam,mas,só o Anjo poderá absolver,depois de julgado o indivíduo será encaminhado a uma das barcas.

No inferno de Gil Vicente os pecadores não se desligam dos objetos de seus pecados,os condenados são,todos,de tal forma apegados aos objetos de seus pecados,que os levam para outro mundo.Assim,o Fidalgo chega acompanhado de um pajem,que segura o rabo de sua luxuosa vestimenta e leva a cadeira de que ele se faz acompanhar, ou seja,vai para a morte cercado daquilo que caracterizou sua vida de altivez,arrogância e riqueza.Da mesma forma, o Frade traz a moça,que representa sua devassidão moral e a espada,que simboliza a sua vida cortesã;o Sapateiro carrega as fôrmas e o vental que lhe serviram,em seu ofício,para explorar os seus clientes;o Corregedor chega ao "cair das almas"sobraçando os volumes dos processos que julgava de maneira corrupta,pois aceitava propinas em troca de suas sentenças; a Alcoviteira vem provida de hímens postiços,todo um armário de mentiras e outros instrumentos de ilusão;o Onzeneiro leva o seu bolsão de dinheiro e o judeu carrega a cabra que era tida como símbolo da sua religião.

O Procurador Corrupto,carregando livros(símbolos),é convidado pelo comandante infernal a entrar na barca dos perdidos,tal como o Corregedor,o Procurador nega-se a embarcar.Os dois doutores conversam sobre os crimes que cometeram e juntos dirigem-se ao batel do Paraíso.O anjo não os recebe e maldiz a ação dos burocratas.O Parvo Joane também intervém,em latim atrapalhado,para acusar os bacharéis.Os dois homens da lei vão fazer companhia a Brígida Vaz, que em vida estivera constantemente respondendo a processos judiciais.A sentença do Corregedor e do Procurador é a condenação da burocracia corrupta e do uso do poder em proveito próprio pelos bacharéis da justiça.

O Enforcado testa-de-ferro.O escrivão Pero de Lisboa aproxima-se do batel dos mal-aventurados.Traz ainda no pescoço a corda com que se enforcou,acreditando que assim teria a redenção de todos os crimes que cometera.O Diabo o desilude. Ao que tudo indica,o escrivão era uma espécie de"testa-de-ferro",pois praticara crimes , no exercício da profissão, sob o comando de seu chefe Garcia Moniz,poupando-lhe o nome e repassando-lhe os lucros,O enforcado recoloca em cena a crítica da burocracia corrupta,já explorada nas passagens do Corregedor e do Procurador.

Os Quatro Cavaleiros de Cristo trazem as armas e uma cruz, símbolos do Cristianismo.São Cavaleiros que morreram nas Cruzadas.Ao passar pelo batel dos danados,são interpretados pelo Diabo,que os requer:"Entrai cá!Que cousa é essa?/Eu não posso entender isto: "Ao que responde um cavaleiro:"Quem morre por Jesus Cristo/não vai em tal barca como essa!"Os Quatro Cavaleiros são recebidos pelo Anjo em seu batel e assim termina a peça e a sentença dos Quatro cavaleiros é a glorificação do ideal das Cruzadas e o espírito do Cristianismo puro.

Roseli Princhatti
Enviado por Roseli Princhatti em 12/01/2012
Código do texto: T3437292
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