Apostila 8

CEFET – Departamento de Linguagem e Tecnologia

Curso de Letras - Disciplina: Linguística Histórica

Professora: Rosane V. G. Beltrão

Dupla: Ariana dos Santos e Luís Antônio Matias Soares

Apostila 8: FILHO, Paulo Bearzoti. História da língua portuguesa. In: ______.Formação linguística do Brasil. Curitiba: Nova Didática, 2002. P. 15-30. Capítulo 2.

O capítulo aborda as mudanças linguísticas pelas quais passou o português, percorrendo desde a época do Período Latino até o clássico. O texto é bastante interessante, uma vez que nos induz a conhecer as principais alterações ocorridas em nossa língua tomando-se como referência o latim e o português antigo.

O primeiro ponto abordado são as alterações da forma (sonora e escrita) de variadas palavras, como: populum (povo) e pauper (pobre). Outro registro importante refere-se à declinação dos nomes. Na declinação, as palavras sofrem alterações de forma ao expressarem diferentes funções sintáticas. Exemplo: no latim o substantivo menina era expresso pelo termo puella quando aparecia na função de sujeito. Ao aparecer na função de objeto, escrevia-se puellam. Portanto, a função da palavra no latim se revela na forma como ela é escrita e não em sua posição dentro da frase.

Determinadas frases, por exemplo, poderiam ser escritas de seis maneiras distintas no latim literário e ainda assim ser compreendida da mesma forma. Já no português as palavras são escritas da mesma forma (menina, por exemplo) tanto para expressar a função de sujeito quanto de objeto, mas não se faz possível escrever a mesma frase de seis maneiras diferentes, pois ao se mudar o substantivo de lugar ele passa a ter outra função na frase, o que faz com que esta mude completamente de sentido. Entretanto, as declinações se conservaram, por exemplo, nos pronomes pessoais dos casos reto e oblíquo.

Outra alteração se refere aos gêneros nominais. No latim existiam três: masculino, feminino e neutro, como em bônus, bona e bonum. Em português a função do neutro foi assimilada pelo gênero masculino. As formas bonus e bonum fundiram-se na forma bom, e bona na forma boa. Mas alguns pronomes conservaram sua forma neutra, como em: este, essa, aquela - isto, isso, aquilo e todo, toda, tudo.

Em relação aos fonemas, muitos deles são utilizados em português devido ao fato de haverem sido utilizados no latim, na origem das palavras: homem (homo). No latim, cada letra quase sempre correspondia a um único fonema e vice-versa. No português moderno, muitas vezes uma letra pode corresponder a variados fonemas. Exemplo: a letra S pode corresponder aos fonemas S ou Z (quando entre vogais)

Vogais abertas e fechadas: em latim, mais importante que a intensidade das vogais (abertas ou fechadas) era a quantidade das vogais e a duração de tempo de sua pronúncia. Isto, no português, foi alterado para a oposição entre vogais abertas/fechadas. Exemplo: história (vogal aberta derivada de vogal longa latina) e povo (vogal fechada em derivada de uma vogal breve no latim).

Consoantes sonoras e surdas: em português temos como consoantes surdas o P, F, T, S, X e K, onde a passagem do ar atravessa a laringe sem fazer vibrar as cordas vocais. Por outro lado vemos a ocorrência das consoantes sonoras B, V, D, Z, J, G, onde a passagem do ar faz vibrar as cordas vocais. O latim, entretanto, não apresentava todas estas consoantes. Inexistia, por exemplo, o V, Z, X e J. No português surgiram as consoantes V (funcionando como semivogal: uva, ou através da passagem da consoante sonora B intervocálica a V: caballum virou cavalo e probare virou provar), Z (correspondente do S entre vogais), LH (decorre de grupos com as vogais I e E junto com L e N: filium = filho), NH (decorre de grupos com as vogais I e E junto com L e N: teneo=tenho), X (evolução dos grupos PL planu = chão, CL clamare = chamar e FL flamma = chama) e J (advém do I latino, como em Iulius para Júlio ou iugu para jogo).

No latim, as diferenças de gênero e numero (e outras mais) são explicitadas a partir da inclusão de flexões ou desinências casuais (casos) para fazer a diferenciação da função sintática. Por exemplo: o singular tinha o acusativo em M e o plural em S, como em Templum e Templos. No português o acusativo M foi suprimido, mas foi mantido o acusativo S.

Houve também a supressão da vogal final em muitas palavras que a utilizavam no latim, como Amore - amor, pastore-pastor. Houve, ainda, a perda do fonema T, que finalizava a 3ª. pessoa do singular, como em Amat - ama.

Em relação às consoantes intervocálicas, houve a queda do L em salire-sair ou em dolore-dor, dando origem a muitos dos hiatos da língua portuguesa.

Também ocorreu a queda do N intervocálico após a nasalização da vogal anterior, como em: vinu - vinho ou manu - mão. No século XIII houve ainda a queda do G e do D, como em legere - ler e credere - crer ou nas antigas formas da 2ª. pessoa do plural: estades - estais e sentides - sentis.

Consoantes escritas: inexistia anteriormente a confusão acerca do emprego das letras S, SS, Z, C e Ç, pois cada uma delas demarcava um som diferente para os falantes. A letra S indicava sempre o fonema S, exceto quando vinha entre vogais, assumindo aí o som de Z/DZ (como na palavra vazio falada vadzio). O SS também tinha som de S, como na palavra assado. C e Ç eram utilizados para demarcar o fonema TS, como em çapato (sapato) para dizer Tsapato ou cujo para sujo, com o som de Tsujo. No português moderno, o final da diferenciação fonológica não provocou alterações na grafia, o que levou e continua levando as pessoas a confundirem a utilização do S, SS, C, Ç, X, SC, SÇ e S, Z e X.

No início do português as letras X e CH apresentavam-se de forma distinta na fala. O CH dizia-se TX distinta do X que era pronunciado apenas como X. A palavra Chamar era dita Txamar e Deixar soava como X, sem o T.

Grande parte das palavras do português teve sua origem no latim, como as partes do corpo (braço, cabeça), animais de criação ou caça (ovelha) termos que expressavam parentesco (mãe, pai etc.), verbos (ser, estar haver, sair), adjetivos (belo, bom, mau) e a quase totalidade das palavras mais gramaticais, como as preposições, pronomes, numerais, conjunções, advérbios etc. Muitos dos substantivos utilizados no português atual derivam de palavras diminutivas do latim vulgar: apicula diminutivo de apis (abelha).

Perguntas:

- P. 19, parágrafo 5º.: povo (vogal fechada) não deveria estar derivada de uma vogal breve (populus) e história (vogal aberta em português). No entanto, o 5º. parágrafo diz que a “tendência era pronunciar como abertas as vogais breves e como fechadas, as longas”.

- P. 23: sobre o significado ou o sentido da palavra “acusativo”.