MARTINS PENA E A COMÉDIA DE COSTUME

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Estudos Literários

 

A quatro de outubro de 1838, estreava pela companhia de João Caetano, O Juiz de Paz na Roça (a primeira redação é de 1833), sem alarde publicitário e sem pretensão histórica. Era o primeiro texto válido como comédia e o primeiro escrito por um dramaturgo nato, Luís Carlos Martins Pena (1815-1848), fundador de nossa Comédia de Costume, que desde a adolescência, compunha divertidas comédias numa linguagem coloquial que, no gênero, não foi superada por nenhum comediógrafo do século XIX. Começava aí, uma carreira curta e fecunda, que o público não cessaria de aplaudir.

Martins Pena escreveu dos 22 aos 33 anos de idade, quando morreu. Nesse curto período de vida escreveu vinte comédias e seis dramas. Dezessete destas comédias foram escritas em dois anos, de 1844 a 1846. Dezenove pelo menos foram representadas. Martins Pena deu ao teatro brasileiro cunho nacional e soube registrar com espantosa atualidade o retrato do Brasil.

Suas personagens: o funcionário público, meirinhos, juízes, malandros, matutos, moças namoradeiras, rapazes conquistadores, estudantes, estrangeiros, padres, negociantes, viúvas, compadres e comadres e profissionais da intriga social. Admirável observador, debruçou-se sobre a vida do Rio de Janeiro da primeira metade do século XIX e explorou, sobretudo, o povo comum da roça e das cidades.

Às cenas rurais, reservou a comicidade e o humor, explorados por meio dos hábitos rústicos e maneiras broncas da curiosa gente rural, quase sempre pessoas ingênuas e de boa índole. Já às cenas urbanas, reservou a sátira e a ironia, compondo tipos maliciosos e escolhendo temas que representavam muitos dos problemas da época, como o casamento por interesse, a carestia, a exploração do sentimento religioso, a desonestidade dos comerciantes, a corrupção das autoridades públicas, o contrabando de escravos, a exploração do país por estrangeiros e o autoritarismo patriarcal, manifesto tanto na escolha de profissão para os filhos quanto de marido para as filhas. Tudo costurado a uma linguagem simples e popular.

Juiz de Paz na Roça (1842) – Peça de estreia de Martins Pena (redigida aos 18 anos), representada pela primeira vez em 1838, no teatro São Pedro e publicada em 1842; trata-se de uma comédia em um ato de 23 cenas que gira em ao redor da seguinte história: José e Aninha namoram às escondidas dos pais dela, Maria Rosa e Manuel João. Com a visita do juiz de paz, Manuel é recrutado para o serviço militar; o juiz dá igual destino a José e incumbe Manuel de guardá-lo em sua casa para que não escape do dever. Na calada da noite, José e Aninha fogem e perante o vigário, recebem-se em matrimônio, assim realizando o velho desejo e afastando a sombra do recrutamento. Os outros personagens são roceiros que servem para apresentar ao juiz de paz as esdrúxulas situações que ele deve resolver, como se observa nas várias petições ao juiz, em que o ridículo se com o grotesco.Desse modo, desfilam diante de nós absurdos de toda a monta. Tudo termina em festa.

O Noviço (1845) - Comédia em três atos, representada pela primeira vez em 10 de agosto de 1845 no Teatro São Pedro, e publicada como livro em 1853. Talvez um dos melhores textos que Martins Pena produziu. O noviço gira em torno da deslealdade de Ambrósio (espertalhão sem escrúpulos, que quer enriquecer a qualquer custo) que se casa por interesse com Florência, rica e ingênua viúva, mãe da jovem Emília, do menino Juca e tutora do sobrinho Carlos (personagem principal da peça). Ambrósio que já havia convencido Florência a colocar Carlos (o noviço) em um seminário. Agora, quer também internar Emília, pois ela se encontra em idade de casar e teria de receber um dote significativo da mãe. Igual destino aguarda o Juca que deve se tornar frade. Assim, Ambrósio ficaria com toda a fortuna de Florência.

Carlos, no entanto, foge do convento e esconde-se na casa da tia, pois quer fazer carreira militar e, sobretudo, desposar a prima Emília, por quem está apaixonado. vindo do Ceará, surge Rosa, a primeira mulher de Ambrósio e da qual ele não se separara oficialmente. Rosa conta a Carlos que o seu marido desaparecera com todo o dinheiro que ela possuía. O problema de Carlos, porém, é livrar-se do seminário; para tanto, aproveita-se da ingenuidade de Rosa e troca de roupa com ela. Que é, em seguida, é encontrada autoridade religiosa com a batina do rapaz. Confundida com o noviço fugido, é enviada imediatamente ao seminário. Enquanto isso, Carlos, começa a ameaçar Ambrósio com a história de sua bigamia. Após inúmeras peripécias, o vilão é desmascarado diante da própria Florência, e os jovens Carlos e Emília ficam livres para o mútuo envolvimento amoroso.

Outras Comédias de Costume

Um Sertanejo na Corte (escrita provavelmente entre 1833 e 1837); A Família e A Festa da Roça, (comédia em um ato, escrita em 1837 e repres. em 1840); Os Dous ou O Inglês Maquinista (esc. em 1842 e repres. em 1871); Judas em Sábado de Aleluia (comédia em um ato, escrita em 1844); Os Irmãos das Almas (escrita e representada em 1844); O Diletante (escrita em 1844 e repr. em 1845); Os Três Médicos (escrita em 1844 e repr. 1845); O Namorador ou A Noite de São João (comédia em um ato, escrita em 1844 e repr. 1845); O Cigano (escrita em 1845, repr. em 1845); O Caixeiro da Taverna (escrita em 1845, repr. em 1845); As Casadas Solteiras (escrita e repr. em 1845); Os Meirinhos (escrita em 1845, repr. em 1846); Quem Casa, Quer Casa (provérbio em um ato, escrita e repr. em 1845); Os Ciúmes de Um Pedestre ou O Terrível Capitão do Mato (escrita em 1845, repr. 1846); As Desgraças de uma Criança (escrita em 1845, repr.1846); O Usurário (escrita em 1846); Um Segredo de Estado (escrita e repr. 1846); A Barriga do Meu Tio (escrita e representada em 1846).

Sobre a obra de Martins Pena, escreveu o crítico e ensaísta Sílvio Romero (1851-1914): "(...) se se perdessem todas as leis, escritos, memórias da história brasileira dos primeiros 50 anos desse século XIX, que está a findar, e nos ficassem somente as comédias de Martins Pena, era possível reconstruir por elas a fisionomia moral de toda esta época. (...) parece que o dramatista brasileiro está vivo entre nós e escreveu hoje as suas comédias”.

Bem por isso, Martins Pena tem sido considerado a maior figura do teatro nacional no século XIX, e uma das mais importantes de toda a nossa dramaturgia. ®Sérgio.

Observação: Caso você tenha o interesse em ler (na integra) As Casadas Solteiras, Juiz de Paz na Roça, O Noviço, Quem Casa quer Casa, solicite-me via contato de visitante.

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Ajudaram na elaboração deste texto: Panorama do Teatro Brasileiro, de Sábato Magaldi. Moisés, Massaud, A Literatura Brasileira Através de Textos. Edit. Cultrix, São Paulo.

Se você encontrar erros (inclusive de português), relate- me. Só enriquecerá o texto.

Agradeço a leitura do texto e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 05/07/2012
Reeditado em 06/07/2012
Código do texto: T3762548
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